quinta-feira, dezembro 12, 2002
sexta-feira, julho 26, 2002
terça-feira, julho 09, 2002
segunda-feira, julho 08, 2002
Robert Crumb, mostrando de novo o que o tempo faz com um artista talentoso que ama seu ofício: veja essa pequena pérola - a partir de uma música infantil. Uma lição de mestre.
domingo, julho 07, 2002
O domingo me encontra querendo coisas que não sei o nome e me lança em uma expedição perdida – até o cinema para ver Star Wars, como se fosse possível resgatar o maravilhamento infanto-juvenil da primeira vez com sabres de luz e de um passeio pelo espaço. Um tanto piedosamente, não consigo ingresso. Ou melhor dizendo, desanimo vendo aquela fila obscena.
Mais sem rumo ainda, vago um tanto pela noite e substituo qualquer filme pelo conforto de comprar livros e comer. O Próximo Amor, de Ives Simon, me faz companhia junto com uma cerveja escura e algumas tapas. E levo para casa Vitor Assis Brasil tocando Jobim. Nem tudo está perdido.
quarta-feira, julho 03, 2002
segunda-feira, julho 01, 2002
Por uma questão de equilíbrio, um comentário quase oposto ao post abaixo surgiu a seguir. Por uma questão de ordem, foi colocado no quase abandonado still life.
Nem tudo é mau no admirável mundo novo. Você pode fazer como eu fazia ontem tarde da noite e ver-e-ouvir Tori Amos em um concerto maravilhosamente soturno e íntimo. Está aqui . Minha favorita é Hey Jupiter, em que ela erra a música, pára, fala com os técnicos (comenta que o jantar dela está esperando...). Que um documento assim não-polido esteja em um site de uma grande companhia, de graça, dá uma idéia pálida de um dos futuros possíveis da internet - um centro infinito de lazer, cultura, pesquisa, imersão... se a também infinita ganância não ficar no caminho, claro.
E é um mundo de links. No site de Jorge, uma referência ao site taperouge me levou a conhecer o destino de gaak, o robot rebelde, que empreendeu uma tentativa de fuga de um laboratório de pesquisas sobre inteligência artificial. Wow. Desnecessário dizer que essa notícia encheu minha mente nerd de maravilhamento e logo estava fuçando no curriculum do criador de gaak, Noel sharkly e meu cérebro fazia sinapses como louco.
Para quem tem pelo menos um mínimo de sangue nerd, trechos como esse são de tirar o sono:
"The robots can 'breed' or evolve by uploading their electronic genes to a remote computer. The Darwinian principle of survival of the fittest will apply as only robots which survive to maturity a given length of time - will be allowed to re-enter their 'genes' into the breeding pool.
Each robot has a set of artificial genes that are used to construct its neural network controller the brains of the machine. When two robots breed, each offspring receives half of the genes from one parent and half from the other (randomly selected) and there is a small amount of mutation."
wow.
quinta-feira, junho 27, 2002
Claudia Acuña. Cantora chilena de jazz. Gravando agora pela Verve. Ouvi o primeiro disco em uma loja. Quase comprei. Mas um rastro de dúvida me perseguia. Agora, ouvindo faixas do segundo disco no site da Verve, entendo melhor meu desconforto. Você pode vê-la aqui em uma pose infeliz de cigana de churrascaria. E ouvi-la.
Porque essa produção infeliz? Porque uma artista latina de jazz não pode se vestir decentemente, cantar sem essa insidiosa percussão com “sons da selva”, algum clone de Naná vasconcelo sacudindo pedrinhas no fundo? E mais aflitamente, porque essa vagueza nos vocais? Ecos de Flora Purim me vieram imediatamente. (Acho ela uma chata, devo dizer.) Badi Assad, uma violonista brasileira interessante, foi para os estados unidos e também virou mãe-natureza, com batas coloridas e vocais infelizes.
A indefinição em arte é um pecado mortal. Quando um grande artista é prolixo, é porque ele tem muito a dizer, mas quando é um artista menor, geralmente é porque ele está tateando pelas palavras. E derrubando copos no caminho.
Confesso alguma parcialidade aqui. Sempre fui fã da concisão. Poemas curtos e nunca odes. Borges chamava o romance de “ o monstro impuro” e cultivava uma anedota de que afinal, o ápice do romance, Ulisses, era ilegível. Não chego a tanto. Mas repetiria o sábio conselho do samba (Noel, acho): seja breve.
quarta-feira, junho 26, 2002
Coltrane, zen e a existência da alma
Romeu, o guerreiro zen, começou seu próprio blog, com propriedade, intenção e conteúdo. E um nome lamentável, haha, mas enfim. Um belo post sobre Coltrane já me animou bastante. Eu, vergonhosamente, não tenho o disco, Romeu. Estou sempre com um olho sobre ele nas lojas, mas é sempre uma pequena fortuna. E eu entendo seu comentário sobre precisar ser grande para ouvi-lo. Na terceira faixa desse ao vivo que comentei ali embaixo, ele vai tão longe que inevitavelmente você começa a se preocupar com os vizinhos, começa a se mexer na cadeira, fica inquieto. Um senso de aventura é necessário. Definitivamente not easy listening. Ainda que aquele Ballads dele você pode ouvir todo com um sorriso no rosto e mesmo minha vó poderia gostar. Enfim. Coltrane lives.
Eu também acho que há uma emoção particular do som dele. A maneira como ele começa as frases me toca quase sempre. Comprei Joshua Redman, que parece emular o mestre, mas há um vazio no som. Pode-se dizer que é uma coisa muscular. Ou talvez a tal da alma.
E para terminar o momento Coltrane, Jorge e eu comentávamos o outro dia, que cara maravilhosa ele tinha. Nenhuma conotação gay aqui, please. Não é nem exatamente beleza. Mas é uma cara que se olha com prazer, um rosto sólido, real.
segunda-feira, junho 24, 2002
Um ataque súbito mas não inesperado à minha série-fetiche Buffy (você pode conferir na seção de comentários do post abaixo) me deixou elucubrando. Não faz sentido nenhum defender aqui um gosto pessoal, mas lembrei de um texto que escrevi outro dia sobre realismo mágico. Poderia se aplicar. Não a Buffy per se, mas a um conceito de porque alguns temas são razoáveis e outros não. Ou alguns são nobres e outros são escória pop. Seguem uns trechos, para não entediar ninguém:
Mágicos e escritores
Lendo esse maravilhoso conto de Ray Vukcevich, Whisper, um monte de links mentais me ocorreram.
O conto está hospedado em um gênero que se chamou de realismo mágico.
Só que instaurar o realismo mágico na literatura é um pouco como reclamar que tal coisa não podia ter acontecido em tal filme. Que não é realista que o personagem não tivesse morrido naquela queda ou que ele pudesse apanhar tanto. Não faz nenhum sentido pra mim. O cumprimento ou não das leis da física não torna um filme mais realista. É celulóide. Imagens, que não estão nem mesmo se movendo. Até o movimento é uma ilusão. Então, um carro na tela é tão real quanto uma nave espacial ou um trenó puxado por gansos. É tudo ilusão.
(...)
O que quero dizer com isso tudo? Que Emma Bovary é tão real ou irreal quanto Lestat, o vampiro ou Harry Potter. Se um personagem está desempregado e bebe muito ou se ele tem asas e voa, não se trata respectivamente de literatura e realismo mágico. É tudo literatura. E é tão real quanto você permita que seja.
(...)
Nomes são citados, teoria nenhuma parece se formar, o leitor desanima
Longa introdução, eu sei. Tudo isso porque gostei do conto de Ray e lembrei de tantos praticantes desse realismo mágico que acabei de dizer que não existe. Lembrei de alguns brasileiros: Murilo Rubião e José J. Veiga, principalmente. Campos de Carvalho, maravilhoso, está em uma categoria mais delirante. Ele não usa o velho truque desses mágicos de salão citados acima: criar um cenário convincente para de repente sacar um coelho. No mundo de Campos de Carvalho são coelhos dentro de coelhos dentro de coelhos dentro de uma ameixa, talvez. O que me soa mais honesto. Porque é um velho truque, realmente. Você vê isso em escritores bem mais antigos, como Poe. Eles ainda apelavam para o Isso é um Relato Verídico, que Recebi de um Amigo, etc. Supondo que quando mais sólida a mesa e a cartola, mais surpreendente o coelho seria.
Cortázar começou assim, como um golpista clássico, com esses truques estritos até alcançar um outro patamar, onde tudo estava no mesmo plano. 62, Modelo para Armar, pelo menos, funciona assim. Não há cortina, varinha, roupa de mágico. A mágica está em todo lugar ou em nenhum.
sexta-feira, junho 21, 2002
quinta-feira, junho 20, 2002
Porto Alegre abre um sol esquecido pelos dias e eu, cavaleiro da arca perdida, vou caçar imagens em sebos. Sempre uma operação que convida ao fracasso, mas é mais um pretexto para respirar pó do que qualquer outra coisa. As imagens procuradas não estão em lugar nenhum, mas um Machado de Assis muito rico sim, assim como um belo dicionário antigo ilustrado e um livro completamente incompreensível, visto em detalhe acima, cujo conteúdo em alemão me escapa de todo, mas não suas imagens - fotos e pinturas reunidas sem nenhum critério que eu possa conceber, mas enfim, não se pode ter tudo.
terça-feira, junho 18, 2002
Finalmente Gaiman responde a pergunta que eu vinha postando na sua página de FAQ´s . Não, ele não se importa com o fato de Harry Potter ser o mesmo garoto que ele criou anos atrás no Books of Magic. Muito elegante da parte dele, convenhamos.
segunda-feira, junho 17, 2002
O mundo se pôe pequeno de formas que percebemos (mal) aos poucos. Chegam bilhetes de Cadiz. Com a internet onisciente sob minha mão, em frente dos meus olhos, procuro o que se come em cadiz; quem odeiam, onde bebem e vejo fotos de azeitonas, aceitunas rellenas de anchoas, que se parecem tanto, tanto com as que estão na lata em minha mão.
Só que aqui estão em latas, dentro de um apartamento. Lá estão brilhando sobre um prato e sob um céu perto do mar.
quarta-feira, junho 12, 2002
É uma experiência maravilhosa se tornar íntimo de um disco de jazz. É um trabalho de aproximação: você não consegue apreender tudo na primeira visita. Você tem aqui três ou quatro ou muitos artistas trabalhando juntos para pintar algo. Cada um tem algo a dizer. Ocasionalmente em uma visita você fica tentado a ouvir mais um deles do que os outros. E o sentido está por todo parte. O artista com o nome na capa não detém a primazia nas declarações. Em um momento o baixista pode abrir uma clareira no meio do som que lhe conforta muito mais do que tudo. Uma batida mais vigorosa nos pratos, uma hesitação no solo, algum silêncio. Há um mundo de decisões aqui.
segunda-feira, junho 10, 2002
sexta-feira, junho 07, 2002
E que tal esse comentário de Neil Gaiman em seu sempre interessante diário?
"Was bitten on the cheek by a spider. Do not appear to be able to climb walls or have any kind of extrasensory abilities yet. So far I've just got a spider bite on my cheek. Seems deeply unfair, really. "
David Gray é minha sugestão de trilha para esse inverno, definitivamente. Ele me acompanhou hoje durante todo o dia e uma miríade de táxis e pular sobre poças e fumar sob marquises olhando para o céu desabando. Com uma voz que soa a uísque, ele gravou o disco quase sozinho em casa. São violões, um piano ocasional e alguns eletrônicos esparsos criando uma textura cinzenta sobre a qual ele desfia seus contos. / crazy skies all wild above me now winter howling at my face and everything I hold so dear disappeared without a trace/ I' ve been talking drunken gibberish falling in and our of bars trying to find some explanation here/ sail away with me honey/ sail away/...
terça-feira, junho 04, 2002
Robert Crumb, quem diria, me diz que preciso ser grato. Justo ele, com aquela persona eu-me-odeio, com a qual tanto me identifico. Pois em uma estória que li hoje, ele dizia Sou Grato, Sou Grato! Eram três ou quatro pagininhas, onde ele mostrava que, no final das contas, no fim do dia, ele era grato por não ter que levantar cedo no outro dia, poder trabalhar em casa, com algo que ele gostava e tal...
A mensagem não podia ser mais oportuna pra mim. Depois de uma breve aventura em um emprego como ilustrador comercial, estou voltando a trabalhar em casa e, acredite, sou grato por não ter que levantar e ir para o mundo lá fora. Só fazer um café e sentar no computador. Ou na mesa e desenhar, melhor ainda.
Gosto de marcar essas mudanças. Demarcar uma zona, dizer esse momento acabou, vamos para o próximo. Então juntei uns CDs’novos e livros velhos e fui andar um pouco por minha cidade natal, a velha Pelotas.
Foi bom, andei muito; comi, bebi e fumei demais com minha família, tirei muitas fotos de casas velhas, (como essa) e na volta, gastei as últimas fotos do filme com meus amigos Fê e Jorge, com quem almocei hoje. Você pode ver as caras sorridentes deles aqui, aqui e ainda um detalhe que saquei da cena, um desses fragmentos que estão ali piscando pra nós. Ou até mesmo, considerando meu momento condescendente, minha cara feia com árvores ao fundo.
Para encerrar os movimentos ritualísticos, minha faxineira passou o dia transformando de novo em uma casa a ruína absurda que meu apartamento tinha se tornado. E chegando lá, encontro além de uma casa limpa, um envelope de Londres, da lovely Melissa, contendo o novíssimo Nick Hornby e um impresso de um conto de Bukowski com ilustrações de quem, senão Crumb.
Então, o dia e o ciclo se encerram e sim, sou grato a meus amigos. E vou começar amanhã minha vida nova, cheio de projetos na prancheta e no monitor, sorrindo. Gracias por todo, chicos y chicas. You are great.
quarta-feira, maio 29, 2002
O dia cinzento em Porto Alegre (como é bom, dio, estar trabalhando de novo em casa) pede um cortazar, convida a uma xícara de café, implora por uma taça de vinho no final do dia e por música durante tudo isso. Então aqui você encontra uma perolazinha do mestre.
Fê também está celebrando Julio (ou me provocando com aquele livro que nunca encontrei para comprar) e você pode ler os comentários dela aqui.
E breve devo estrear mais um site, com o nome bastante autoexplicativo de sobrelivros. Aparentemente eu tenho uma disposição infinita para atividades não-lucrativas.
segunda-feira, maio 27, 2002
Em todo o caso, parece um belo livro e um autor interessante, que capaz de manter um clima de realismo mágico sem azedar a mistura. Mais sobre ele aqui.
sexta-feira, maio 24, 2002
Jazzman
Lendo Bird Lives, uma maravilhosa biografia de Charlie Parker. Se você viu Kansas City, de Robert Altman, você viu a cena: o jovem Charlie, com seus 14 anos escondido em um dos bares onde se tocava jazz, para poder ver seus ídolos. A cada noite, quando sua mãe ia fazer faxinas noturnas, ele ia perambular pelos clubes. Jogado para fora de novo e de novo pelos seguranças, ele achava sempre uma maneira de se infiltrar pelos fundos e ficar em um canto, admirando por horas a música de Webster Brown, Lester Young ou Count Basie.
Difícil imaginar que para um desses garotos que estudam jazz na Berkeley, o jazz possa ter o mesmo significado. Aliás, o jazz está em uma encruzilhada e faz tempo. É uma música que parecia depender de uma certa mística e os sucessores musculares do gênero, como Winton Marsalis, que parece estar fazendo musculação com o trompete, francamente não tem muito o que dizer. Você vê John Pizarrelli ou a bela Diana Krall, e, por mais agradáveis que eles sejam de se ouvir (e são), eles estão fazendo entretenimento.
Devem, precisam haver novos caminhos. Ano passado tive o prazer de ver Joshua Redman ao vivo e ele me parece tentar articular coisas novas. Mas o assunto é longo e o post já se alongou demais. Volto ao assunto.
quinta-feira, maio 23, 2002
Ok. Tomei uma atitude. Você já pode dar sua opinião sobre a qualidade do café que toma aqui. E sobre qualquer coisa, claro. Depois do café, vá para o Lounge. O lugar ainda precisa de uma reforma, mas você já pode fazer seu próprio drink por lá.
Meu bom amigo (e ex-professor/inspirador) José Flores deve saber bastante sobre isso. Um artigo sensacional conta como um professor de literatura orgulhosamente apresenta um clássico pessoal favorito para os alunos:On the road, do Kerouac. Os alunos odiaram. O professor comenta o choque e o que ele aprendeu com isso. Lembro muito de Zé e outros professores tentando mostrar Kandinsky ou algo assim para alunas que preferiam estar vendo a novela das 6. Dias duros, meu caro. Eu sofria parelho com ele. Mas não deixa de ser interessante pensar em sobre como damos como certo a superioridade de nossos gostos.
O artigo está aqui. E para os que não lêem na língua de Shakespeare, eu juro que fico chateado de passar tantos links em inglês, mas A) São coisas que encontro e B) A internet em português, sinto muito, mas ainda é precária.
Talvez esteja mais do que na hora de fazermos algo a respeito disso.
(Bueno, já estamos aqui digitando isso, mas talvez devamos fazer mais. Estou pensando a respeito. Todos devíamos. E logo devo instalar um sistema de comentários aqui para meus quatro leitores me ajudarem a pensar nisso.)
Se P.J. Harvey estivesse com writer´s block e precisasse de idéias, não precisaria ir muito longe: melissa continua escrevendo as coisas mais tristes do mundo. E em inglês. Como esse último post que está lá, sobre fumar o último cigarro e não conseguir dormir mais. Praticamente posso ouvir P.J.Harvey cantando isso. Ou então, Jorge, quem sabe enfim fazemos nossa própria banda depressiva, que só se apresentará em dias cinzentos e noites chuvosas. Que tal?
quarta-feira, maio 22, 2002
terça-feira, maio 21, 2002
Nosso Homer ilustrado, o criador de SuburbanLimbo, falava o outro dia de algo que ele queria que inventassem: um leitor de blogs, onde você pudesse reunir todos os blogs que lhe interessam e ir somando outros a cada momento. Pode-se fazer um portal, claro, mas ele imaginava algo mais prático. Entendo o ponto de vista dele. Cada dia descubro dois ou três que queria continuar lendo. Não se pode ler todos, por supuesto. Uma vida inteira não seria o suficiente, estamos no campo do incontável aqui, do Livro de Areia de Borges.
Ainda Borges: há algo de Aleph nisso: o ponto de onde se pode ver tudo. A visão totalizante e esmagadora da totalidade. Curioso ver essas teorias se realizando na web. Como a de Cortazar, citada abaixo. Outra cortazariana: a Cidade. Um lugar com que vários amigos sonham. Uma cidade, com canais, pontes e ruas que amigos visitam em sonhos. Ocasionalmente se vêem de relance, se perguntam no outro dia: você não estava lá? Também foi cumprida de uma forma, com os mundos virtuais da web, com portais onde se incorporam personas, com as comunidades online. Tudo isso é muito lindo e ocasionalmente aflitivo.
São tantos, tantos, tantos. De uma certa forma, lhe dá esperança na raça humana. No número de pessoas inteligentes que existem. Acabei de abrir um blog italiano, life,love,regret, onde ele deu um novo significado a s&m: smart and miserable. Desnecessário dizer que adorei isso.
Belo design e idéias vagas de uma garota inglesa:dissolved girl.
Adventures in dating cumpre a promessa do nome. Uma jovem profissional de NY, beirando o desespero, apela para uma agência de encontros. E conta tudo, com uma sinceridade impressionante.
And so on and on and on.
segunda-feira, maio 20, 2002
Almoçando com a almodovariana Lu, falávamos de Cortazar e Rayuela e de como o livro antecipava os links da web. Buscando mais tarde trechos para mandar como um regalito para a bela, achei essa pérola: o Rayuela-o-matic, um leitor web do livro. O projeto é um primor. Cortazarianos de longa data, como eu, mas proativos, resolveram tomar nas mãos a idéia de pôr o livro online, com a beleza de cada leitor se responsabilizar por um capítulo. É um primor de experimento patafísico, uma justa homenagem e uma chance para quem ainda não leu o mestre. Para uma tarde cinza como hoje, é a leitura perfeita.
domingo, maio 19, 2002
sexta-feira, maio 17, 2002
Sim, estou fumando, amigos. Devo ser oficialmente o mais velho novo-fumante do mundo. Não tinha nem experimentado fumar até os 34. Um comentário de um amigo sobre como eu seria o típico fumante me deixou pensando. E, próximo do final da primeira carteira, confirmo: sim, faz sentido pra mim. Percebi que acompanha meus hábitos: emoldura minhas audições de jazz nos phones tarde da noite, minhas madrugadas na internet, pra não falar da satisfação absurda que causa depois do café que vem depois de um almoço feliz. O entusiasmo típico dos recém-convertido a qualquer coisa. Aguardem loas à fumaça. Zanuzzi, entendi seu exílio no corredor.
quinta-feira, maio 16, 2002
Não, eu não tenho nenhum discurso estético-sociológico para justificar Gisele Bundchen aqui, fora eu ser absolutamente louco por ela. Posando de bela da tarde. Catherine Deneuve revista e ampliada. Beautiful. O ensaio completo você pode ver aqui.
segunda-feira, maio 13, 2002
" All through dinner, I starred at this couple sitting behind Jake. Older. My guess is from the Midwest (they sounded that way). Barely spoke to each other. The reason for my fascination was the woman. We're eating in a fairly fancy place (a $75 bucks head is not unheard of) and she's drinking a tall glass of Orange Soda.
Maybe there's a fine reason. Maybe she owns the company and only drinks orange soda. Or maybe she a former drunk and that's how she stays sober. Maybe. But here's what I think. I think she's been drinking orange soda since she was 10 years old. She orders it everywhere and drinks it with everything. And that made me sad. It made me sad because that woman and her husband look like good, solid American citizens. Republicans, Fox news viewers, Bush supporters. The kind of folks who vote, who demand tax breaks for their dairy business but hate welfare, the kind who support any bill with the word America in the title. In short, the kind of Ma & Pa, average Americans who run this country. And yet, with all that power, she is so sheltered that she drinks the same Orange Soda she's been drinking since the age of ten. It doesn't seem right.
Look, they don't need to be wine snobs, but I'd like some little bit of proof of a sophistication worthy of their age. Proof that they've learned something since their teen years. Do we really want to be led by people who haven't changed their drinking habits in 50 years? I don't. It almost makes me envy the French. "
sexta-feira, maio 10, 2002
Americanos são overachievers. Gente que faz. Já falei isso aqui e de uma maneira negativa, mas o que não posso deixar de admirar é como eles pegam um minúsculo projeto e dão corpo a ele, criam uma estrutura, transformam em um modo de vida, em um ganha-pão e sabe-se lá o que mais. Nada é pequeno demais para ser levado a sério nem nada é grande demais que os assuste.
Veja o caso de Andrea Scher (acima) e seu Superhero design. Ela faz colares de contas coloridas. Descrito assim parece uma atividade inócua, quase-hippie e convenhamos, não muito interessante. Mas vá no site dela pra ver o que ela fez disso. Polaroids de amigas usando os colares; gente interessante, engraçada, cores absurdas, links para os projetos pessoais dela (ela é uma pintora muito honesta), enfim, todo um conceito em cima de, veja você, colares de contas. A idéia é tão simples e a realização do projeto é totalmente despretensiosa, mas meu ponto é - aqui no Brasil qualquer amigo seu tem idéias mais interessantes 3 vezes ao dia, mas quem realiza?
Fim do sermão. Vá ver.
quinta-feira, maio 09, 2002
Cowboy Junkies pela manhã. Dois clicks no discman e estou em um mundo diferente, longe das intrigas e mesquinharias do trabalho. Você quase pode ver a manhã enevoada de onde eles cantam. Os amplos espaços, uma certa falta de perspectivas e aquela tristeza inefável na voz de Margo Timmins. Por algum motivo, isso me faz feliz.
terça-feira, maio 07, 2002
Almoçando no shopping, comendo aquela comida hedionda que eles tem para oferecer, me ocorre que ali seria o cenário perfeito para o purgatório.
As almas vagariam ali sem vínculos, sem crédito, incapazes de conseguir satisfação e comendo aquela comida horrível.
Mais ou menos como já acontece.
Poesia pra mim é a área de onde todos os amadores deviam se afastar, para evitar danos maiores à sociedade.
O que você vê no post abaixo é uma letra do disco de Anne Sofie Von Otter e Elvis Costello, que não posso recomendar o suficiente. Para dias bons e maus.
domingo, maio 05, 2002
segunda-feira, abril 29, 2002
Delícias suburbanas: no final de um dia frio, sob uma chuva fina, encontrar no caminho de casa em um mercado suspeito, uma quantidade razoável de garrafas de Miolo esperando quietinhas na prateleira, sob uma etiqueta muito razoável de preço.
Em casa, do lado de uma taça, ouvir Norah Jones, a nova delícia folky-jazz, com sua voz de Carole King jovem, direto do site da Blue Note. Às vezes, a vida não é tão complicada.
E minha sugestão é que você vá lá e ouça também. Norah Jones.
Não é. E depois de um almoço pouco inspirado, alguma linha de instrução em java ou flash faz cair uma chuvinha fina.
sexta-feira, abril 26, 2002
Sou uma antena e fico louco na lua cheia. Isso parece poema de quinta, mas são só os fatos. Fico andando pela casa, torço as mãos e olho para as paredes. Ou saio de casa e bebo muito, mas há sempre o dia seguinte. De toda maneira, não há solução. Posso me torturar e pôr Cassandra Wilson cantando Harvest Moon ou me fingir indiferente e assistir tv, mas dá na mesma. É uma angústia indissolúvel, um desejo de que a vida seja subitamente mais interessante que esse caldinho ralo pra doente, essa sopinha de hospital. Deitado, fico olhando o teto infinitamente. Na rua, fico andando como um homeless desorientado. Ouço tambores lá fora.
quinta-feira, abril 25, 2002
domingo, abril 21, 2002
é domingo, mas serei breve
É domingo, e sempre se está um nível acima. Ou abaixo. Pra mim é sempre assim. Ou estou na lama, vendo seis horas de televisão até a total numbness ou estou naquele mundo rarefeito das idéias, abraçado com um livro, ouvindo uma ninfa cantar, como agora Anne Sofie Von Otter, com essa voz que não é da terra. Hoje é um desses dias rarefeitos, thank god, o ar frio entrando pela janela, o mate ao lado, vários livros velhos novos me cercando, pousados no braço do sofá. Eles me dão conforto só com a presença deles. Às vezes são semanas até que eu abra algum e um visitante ocasional poderia pensar que é alguma forma de esnobismo cultural, mas é conforto puro. É a idéia dos livros, o amor aos objetos que eles são, que Caetano cantava.
E esse post nasceu de uma carta para José Flores, que fez sentido pra mim alguns instantes depois de ter sumido da minha tela, então fico com a impressão de que havia algo significativo que esqueci de reescrever, mas agora está borrado como nos sonhos. Que seja. É domingo, after all.
quarta-feira, abril 17, 2002
Eu estou apaixonado por um livro, um livro ordinário que ninguém ouviu falar e que eu comprei em uma oferta, em um estado pra lá de lastimável. Chama-se The Moviegoer e eu estou arrasado que ele vá acabar. Tenho prolongado essa agonia tanto quanto possível, mas como dizem os profetas do apocalipse, o fim está próximo.
Esse é sempre um momento traumático para os leitores. Você vai ser expulso de um mundo familiar, que você aprendeu a amar. Claro, você sempre pode reler, mas há uma sensação de trapaça. E as cenas se repetem. Não sei se como farsa, como na ilustre frase, mas sem o mesmo brilho. Não, a primeira leitura é tragicamente irrecuperável.
O livro é cuidadosamente não-estrelado por Binx, o moviegoer do título, alguém que falseia tanto quanto possível para não viver de verdade. Ele engana. Ele tem um trabalho aquém das suas possibilidades intelectuais, tem affairs com as secretárias e quando a vida ameaça se manifestar, vai ao cinema. É o suficiente para que a vida, de fato, não aconteça. Quem não consegue se enganar é Kate,uma meia-prima de Binx, que vê através de todos esses esquemas e, amparada por uma herança razoável, escapou do trabalho, do casamento e de tudo que pudesse distraí-la. Tragicamente, eles não conseguem gostar o suficiente um do outro para que algo aconteça. Cada um fareja o farsante no outro. Então eles falam sem se falar e se entendem em silêncios e em alusões obscuras, pequenos jogos mentais sem humor que não servem de consolo. Kate está mais próxima do abismo. Binx assiste e preferia não assistir. Entre uma secretária e outra ele chega a pensar em casar-se com ela, com uma salvação patética para os dois.
Patético é esse resumo, mas é o tipo de livro que não pode ser resumido. Eu antecipo que não há solução possível para o enredo, também, e que eles vão simplesmente me abandonar, me deixando com minha própria vida para cuidar. Então eu leio meio capítulo, em um momento cuidadosamente selecionado e lamento mais um pouco.
Um garçom atinge a perfeição quando encontra o equilíbrio entre a invisibilidade e a presença e quando você não consegue imaginá-lo em outro lugar.
Acredito que encontrei o garçom perfeito. Ele trabalha no bistrô do Margs. Sutil, simpático sem ser excessivo, conhece o cardápio e tem piadas milimétricas com os clientes. Consegue te trazer aquele conforto de ser reconhecido, lembra de qual foi a última sobremesa que você experimentou e eu não conseguia, de maneira nenhuma, imaginá-lo fora dali. E o almoço foi impecável como sempre. Um minúsculo expresso com chantilly (dois, na verdade) selou/selaram o momento. Voltei pra rua curado de meu mau-humor e deslizando entre os pedestres. Viva a Slow Food.
quinta-feira, abril 11, 2002
O fim do mundo
Acordar com uma sensação apocalíptica que custa a se desfazer. Por algum motivo qualquer, um filme que narra o último dia na terra vem à minha mente ainda na cama. O que você faria, como pergunta o infame Paulinho Moska, se esse fosse enfim o último dia?
No filme em questão (esqueci o nome - O último dia?) a população sabe a data exata do fim e reage de maneiras diferentes. Há famílias fingindo que é natal, casais tentando achar um conforto final no sexo, alguma convulsão social pelas ruas... gosto de um personagem que tem grandes dilemas escolhendo a música que vai tocar no momento exato. Ele escolhe um Bethoveen, se não me engano.
E quando saí para a rua, atrasado e sonolento, o dia tinha uma dessas iluminações ambíguas, quando o céu branco é atravessado tanto por nunvens cinzentas quanto por raios de sol saídos do nada. Na parada, um ônibus abre suas portas exatamente à minha frente, mostrando um interior desolado e vazio. Embora minha mente saiba que não é o fim, a impressão não se dissipa. São 10:30 e ainda sinto como se o mundo fosse acabar.
(A foto de fim de mundo veio do www.in-public.com e é de Trent Parke)
quarta-feira, abril 10, 2002
Há um relato de que Sartre preferia a companhia de uma mulher bonita à dos seus amigos intelectuais, a qualquer dia. (E a santa Simone que se virasse).
Não chego a tanto, mas me deixa mais tranquilo em dizer que sim, sou afetado pela beleza. Como presença, digamos. Não que eu saiba lidar com ela. Na verdade, fico profundamente paralisado. Difícil entender o que significa a beleza, de fato. Ela gera um estranhamento, uma distorção da percepção, por assim dizer.
O que é uma forma complicada de dizer que fiquei meio tonto ontem conhecendo uma bela.
domingo, abril 07, 2002
(Eu culpo os domingos por isso. Ou excesso de café. Ou os dois.
Acredite, você tem minha compreensão se não ler.
Tente na terça, deve estar melhor. Segunda eu vejo muita tv e fico melhor.)
Domingo pode ser como o começo de Perto do Coração Selvagem, onde Joana tenta agarrar o ar entre ela e os móveis, olha para as paredes e se desespera e pergunta – Pai, do que eu brinco agora?
O dia pode se esticar pra sempre, se você deixar. Simplesmente olhar pra fora da janela, e ver uma parede branca como eu vejo e se espantar que o momento não passe.
(Se existe algum título mais bonito do que Perto do Coração Selvagem não lembro agora.)
Voltando ao que eu dizia outro dia: me sinto dentro de uma enorme pausa. Nem música, por semanas.
A criação, quando acontece, traz a ilusão de algo acontecendo em sua vida. O tipo de sensação que outros extraem de relacionamentos, empregos, preocupações. Ninguém está pronto para enfrentar o vazio total, a falta de significado, a inexistência de um caminho. Talvez o mestre zen esteja, mas ele morreu no japão faz tempo. Hoje as pessoas se ocupam com o zen como se ocupariam com marcenaria ou com a bebida.
Mas o do que fugimos, em última instância? Da ausência mesmo de significado? Do que o zen chama de void, o vazio infinito? Alguns capítulos de um livro sobre zen: “Sitting quietly, doing nothing” “Empty and marvellous”. Podemos chegar lá? É possível, para um ocidental contemporâneo, criado no tempo da mtv?
Uma conclusão parcial é: há níveis de tolerância para o vazio. Algumas pessoas entram em pânico se tiverem uma noite livre. Outras só começam a se afligir depois de semanas. Talvez, talvez, alguém na terra consiga viver sem planos. Ou ocupações. Viver, só.
Não se trata, efetivamente, de sentar-se em frente a um riacho por toda a vida, caso você esteja me lendo muito literalmente. Mas de não fazer coisas por medo do monstro debaixo da cama, o Vazio. De que nossas atividades não sejam como uma fogueira pra espantar animais selvagens.
Como consolo, se você acha que fracassei completamente, uma das velhas máximas do zen:
Aqueles que sabem, não falam.
Aqueles que falam, não sabem.
Então...
quinta-feira, abril 04, 2002
Abri um espaço, um recreio da criação. Me pergunto se é longo demais. Umas duas semanas que tenho as noites livres de novo. Chego em casa e mesmo minha casa parece perguntar E daí. Cresce o desejo de novo de acalentar um projeto, de ter um tema correndo por sob a superfície. O tipo de momento que você percebe que não cria para os outros, cria para que sua vida se sinta justificada. Ou para viver em um mundo mais interessante, diferente desse descrito abaixo.
Acredite, os motivos de um criador são profundamente egoístas.
Nós brasileiros, em particular, acho que vamos para um círculo especial no céu ou no inferno, por termos transformado o paraíso que recebemos nessa terra de ninguém. Mas pode ser meu humor que anda alterado. Júpiter em conjunção com saturno, sei lá.
quarta-feira, abril 03, 2002
terça-feira, abril 02, 2002
segunda-feira, abril 01, 2002
domingo, março 31, 2002
Hoje eu sou o que em Vanilla Sky chamaram de pleasure-delayer. Gosto de deixar cada capítulo reverberar em mim, deixar o eco se extinguir. Mesmo um bom parágrafo pode valer a pena uma pausa, o tempo de levantar, tomar uma água, olhar pela janela.
Uma quebra significativa no livro, como o final de um ciclo ou de um evento importante geralmente é o sinal para eu deixá-lo de lado e retomar no outro dia. Dormir enquanto o personagem dorme. Isso dá uma organicidade para a leitura. E ocasionalmente coisas curiosas acontecem.
Há mais do que um eco do livro no mundo “real”. Você se vê no ônibus lendo um trecho onde o personagem narra uma viagem de trem. Você se sente particularmente cansado, estica as pernas e o livro narra o fim de um dia particularmente cansativo. Ou o que é mais significativo, você sente como se o narrador comentasse a sua vida, algum aspecto muito particular daquele momento. Acontece. É uma coisa meio cortazariana, mas olha, acontece.
(E deve ser por isso que fui perdendo a coragem de ler certas coisas. Under the Volcano, o livro de Malcom Lowry em que foi inspirado o magnífico filme de John Huston, está lá na prateleira me esperando há quase um ano. Mas a estória do cônsul alcoólatra que busca o precipício desesperadamente me afasta. Olho para o livro com uma certa volúpia, mas penso de novo e de novo: eu quero experimentar esse desespero, essa estação no inferno? E a resposta continua sendo não. Sei da minha capacidade de espelhar um mood, de entrar nas botas do personagem e não quero habitar aquele corpo aflito. Sorry, Malcom.
sexta-feira, março 29, 2002
Qual será a sensação de ser assim instantâneante desejável, de ter o apelo primal de um frango assado para um faminto? De minha parte, fico confuso e perturbado, tentando me concentrar e em um minuto elas partem (para a praia) e levam seus corpos claros para longe. A realidade volta a ficar suportavelmente opaca e troco civilidades com a caixa.
* A mais hard das duas, de óculos escuros, visivelmente impaciente, para quem aparentemente mesmo um minuto esperando para pagar era muito, gasta uns segundos me olhando com uma crueza que pergunta qual é meu lugar no mundo; obviamente não tenho resposta possível a não ser olhar com mais atenção ainda para a prateleira das torradas, como se a resposta estivesse lá.
quinta-feira, março 28, 2002
terça-feira, março 26, 2002
*Por uns 7 minutos, acho, ela me explica andando em círculos porque eu deveria ir até lá. Eu ando em círculos aqui também, ouvindo. Ponho músicas para ela e caminho até a cozinha. O motivo ou é muito óbvio ou totalmente incompreensível. O raciocínio oblíquo das mulheres.
Encerramos com um Ficamos Assim e nenhuma certeza. Porque os mortos não ficam mortos?
segunda-feira, março 25, 2002
Sim, Caterina. Me tornei um habitué da página dela, mas vamos combinar que ela tem uma vida impossível. No curriculum, além de uma lista inacreditável de trabalhos e de proeficência em quase todos os softwares possíveis, ela adiciona esse pequeno perfil, sem constrangimento:
Have written screenplays, short stories and a novel. Have traveled in Europe, Asia, Australia, North and South America, Middle East and the Caribbean. Working French and Spanish. Avid skier, hiker, yoga practitioner. Continue to produce paintings, drawings and book art. References and full portfolio available upon request.
Dio mio. Quando é que ela respira? Americanos. Não é por nada que eles criaram uma expressão para definir essa ambição de fazer tudo: overachievers.
sábado, março 23, 2002
(Eu sei, eu sei. Mas o final de semana abre espaço para divagações mais amplas.)
Eu tenho uma certa fascinação idiota com estar vivo, eu juro. Não é demagogia. Eu simplesmente nunca superei aquela perplexidade infantil com a própria existência. No final de semana, uma das minhas atividades mais comuns ainda é sentar no sofá e olhar pro nada. É como pescaria. De fora, parece incrivelmente chato, mas é a espera por um momento perfeito. Quando você tem uma sensação intensa de estar vivo, por um instante, pronto, você foi recompensado. Impossível explicar porque acontece, ou o que é, exatamente, mas. Deve ser porque o zen pareceu tão atrente pra mim.
Então Não Fazer Nada continua sendo minha atividade favorita. Seguida de ler, possivelmente. E o desenho seria a terceira. Em minhas fantasias adolescentes já imaginei uma vida em que a leitura fosse a atividade principal. Como no personagem do chofer, do filme Sabrina, que se tornou chofer para ter mais tempo para a leitura. É o tipo de fantasia adolescente que cultivo ainda, às vezes. Uma vida totalmente estável e sem demandas, em algum emprego incrivelmente low profile, para criar tempo e disponibilidade mental para a leitura. Livre das vaidades, como A Obra, A Carreira, A Relação Perfeita e por aí afora. Não é uma vida ruim, em absoluto. Ainda está lá, no fundo da minha mente. Poderia ser o cenário final perfeito.
sexta-feira, março 22, 2002
É tão fácil se apaixonar online. A vida editada parece tão mais interessante. Se a mulher é bonita, lida, tem senso de humor e sabe escrever então, é covardia.
É o caso de Caterina. O que dizer de uma mulher que tem um cachorro chamado Dos Pesos? I´m in love.
Até amanhã, pelo menos.
quinta-feira, março 21, 2002
Se você não se importa de caminhar um pouco, a noite de tv eu vou descrever no tvjunkie. Mais para manter o decoro e o formato original dos sites. Gracias.
quarta-feira, março 20, 2002
Ele caiu na minha frente com um paf tão delicado que posso ter imaginado. De costas. Difícil saber o que tinha acontecido, mas ele estava na pior. Ainda me abaixei pra dar uma olhada e ele batia uma asinha com teimosia, mas era só. Me olhava, também, mas honestamente, o que eu podia fazer? Torcer o pescoço dele, como um cowboy com seu cavalo? Ou sair dali com ele na mão? Não sou a Dharma. Gosto de pensar que não sou o Greg, mas não sou a Dharma. Ele já estava passando dessa pra outra. Pra voltar como um caracol ou uma pedra polida.
Segundo minha faxineira, o problema é que estou de (ou com) kulundu. Na tradução dela, " de bode amarrado" . Vai saber.
segunda-feira, março 18, 2002
sexta-feira, março 15, 2002
Depois de mais uma desilusão amorosa (ainda mais uma), me presenteei com um almoço no bistrô do Margs. Poucas desilusões resistem a isso.
Um filé recheado com tomates secos e rúcula ( e um risoto discreto) foi coroado com a extravagância de mangas flambadas com cerejas e sorvete. Dio mio. Mais um expresso e saí dali flutuando. Já que ninguém me ama, pelo menos o garçom, com o amor falso dos garçons. Me reconhece, me trouxe um chopp quase imediatamente e tinha senso de humor. Como se diz (bem) em inglês, you gotta be thankful for smal blessings.
* O nome de expresso fica cada vez mais apropriado. Se criou um padrão de postings pós-almoço. Perfeito.
quinta-feira, março 14, 2002
* Um dos meus gurus gastronômicos dizia que às vezes pomos sal direto no prato só para sentir os cristais na língua.
Gosto de pensar que podemos nos importar com esses prazeres microscópicos. Ou que prestamos atenção a esses detalhes. Não consigo deixar de olhar com o horror da incompreensão para quem come sem prestar atenção.
** Um amigo sonhava com a maneira com que ia morrer e estava convencido que ia ser assim mesmo. Esfaqueado pelas costas, veja que dramático. Segundo ele, ele via a calçada chegando enquanto caía.
*** Peitos Inacreditáveis entrou sorrindo no restaurante, seguida pelo pretendente solícito. Peitos tinha motivos para sorrir. Com seus vinte e poucos anos, não precisava mais do que uma blusa justa para agradar. Mesmo assim, ela fazia o show completo. Ria das piadas dele e mexia no cabelo, sempre.
terça-feira, março 12, 2002
Sair para almoçar sem saber onde, andando em linha reta indefinidamente, naquele estado de espírito vagamente distraído, de onde geralmente saem as boas coisas.
(Um gigantesco parênteses podia ser aberto aqui, claro, sobre a ingenuidade desse pensamento, do nosso estado de espírito influenciar a realidade de fato. Eu sei, eu sei, os defensores. Enfim.)
Almoço por fim no clássico chinês duvidoso, aquela banalização cruel da comida oriental - ou aquela comida sem nenhuma qualidade, amparada pela vaga franquia étnica.
A decoração dolorosa no olhar.E no entanto, parecia certo. Por quê?
Aftertoughts:
* A comida, triste e degradada, como era de se esperar. No entanto, misteriosamente senti alguma satisfação comendo meu macarrão.
Por um segundo, pude fantasiar que eu era um chinês comendo comida ruim na china. Just your everyday noddles.
** Casais improváveis no restaurante. Ou altamente prováveis, no tipo de falta de fluência e intimidade que eles demonstravam.
Um desconforto familiar. Acostumados a se entediar juntos. Por algum motivo eles preferem isso qualquer dia a a uma solidão decente.
*** O tipo de lugar onde até as frutas parecem tristes.
**** Depois tomei café em um lugar com pretensões e Pepe Legal voava no Cartoon Network, o que interpretei como bom sinal. Aquelas linhas
tão cuidadosamente traçadas e aquelas nuvenzinhas fakes se movendo no fundo tinham um efeito reconfortante. O mundo salvo pelos cartoons.
Talvez só sobrem eles no final. VIsão apocalíptica: uma tv em uma locadora passando cartoons em tempo integral em uma cidade vazia de habitantes.
Mas eles não sabem, e continuam perpetrando suas gags indefinidamente, enquando houver luz elétrica e cabo. Não é confortante?