quarta-feira, maio 29, 2002

Ainda os livros

O dia cinzento em Porto Alegre (como é bom, dio, estar trabalhando de novo em casa) pede um cortazar, convida a uma xícara de café, implora por uma taça de vinho no final do dia e por música durante tudo isso. Então aqui você encontra uma perolazinha do mestre.

Fê também está celebrando Julio (ou me provocando com aquele livro que nunca encontrei para comprar) e você pode ler os comentários dela aqui.

E breve devo estrear mais um site, com o nome bastante autoexplicativo de sobrelivros. Aparentemente eu tenho uma disposição infinita para atividades não-lucrativas.

segunda-feira, maio 27, 2002

Livros são objetos de desejo, dificilmente substituídos pela internet enquanto ela permanecer tão intangível, nervosa e frágil. Lembrei disso hoje, vendo essa capa maravilhosa. O que acontece aqui? Uma gestalt, eu diria. Não é a só a bela pintura nem o nome intrigante, mas a soma das duas coisas com as possibilidades presentes no livro. Você vê a capa, lê o título e imagina o livro. Às vezes, claro, nosso livro imaginado é melhor do que o real, mas isso é uma contingência. Sorrindo pra você da vitrine, ele faz promessas que nem sempre são cumpridas.

Em todo o caso, parece um belo livro e um autor interessante, que capaz de manter um clima de realismo mágico sem azedar a mistura. Mais sobre ele aqui.

sexta-feira, maio 24, 2002



Jazzman
Lendo Bird Lives, uma maravilhosa biografia de Charlie Parker. Se você viu Kansas City, de Robert Altman, você viu a cena: o jovem Charlie, com seus 14 anos escondido em um dos bares onde se tocava jazz, para poder ver seus ídolos. A cada noite, quando sua mãe ia fazer faxinas noturnas, ele ia perambular pelos clubes. Jogado para fora de novo e de novo pelos seguranças, ele achava sempre uma maneira de se infiltrar pelos fundos e ficar em um canto, admirando por horas a música de Webster Brown, Lester Young ou Count Basie.


Difícil imaginar que para um desses garotos que estudam jazz na Berkeley, o jazz possa ter o mesmo significado. Aliás, o jazz está em uma encruzilhada e faz tempo. É uma música que parecia depender de uma certa mística e os sucessores musculares do gênero, como Winton Marsalis, que parece estar fazendo musculação com o trompete, francamente não tem muito o que dizer. Você vê John Pizarrelli ou a bela Diana Krall, e, por mais agradáveis que eles sejam de se ouvir (e são), eles estão fazendo entretenimento.


Devem, precisam haver novos caminhos. Ano passado tive o prazer de ver Joshua Redman ao vivo e ele me parece tentar articular coisas novas. Mas o assunto é longo e o post já se alongou demais. Volto ao assunto.

quinta-feira, maio 23, 2002

Fachada do Lounge Desse lado do balcão

Ok. Tomei uma atitude. Você já pode dar sua opinião sobre a qualidade do café que toma aqui. E sobre qualquer coisa, claro. Depois do café, vá para o Lounge. O lugar ainda precisa de uma reforma, mas você já pode fazer seu próprio drink por lá.
A fronteira do gosto
Meu bom amigo (e ex-professor/inspirador) José Flores deve saber bastante sobre isso. Um artigo sensacional conta como um professor de literatura orgulhosamente apresenta um clássico pessoal favorito para os alunos:On the road, do Kerouac. Os alunos odiaram. O professor comenta o choque e o que ele aprendeu com isso. Lembro muito de Zé e outros professores tentando mostrar Kandinsky ou algo assim para alunas que preferiam estar vendo a novela das 6. Dias duros, meu caro. Eu sofria parelho com ele. Mas não deixa de ser interessante pensar em sobre como damos como certo a superioridade de nossos gostos.

O artigo está aqui. E para os que não lêem na língua de Shakespeare, eu juro que fico chateado de passar tantos links em inglês, mas A) São coisas que encontro e B) A internet em português, sinto muito, mas ainda é precária.

Talvez esteja mais do que na hora de fazermos algo a respeito disso.

(Bueno, já estamos aqui digitando isso, mas talvez devamos fazer mais. Estou pensando a respeito. Todos devíamos. E logo devo instalar um sistema de comentários aqui para meus quatro leitores me ajudarem a pensar nisso.)
Mel´s song.
Se P.J. Harvey estivesse com writer´s block e precisasse de idéias, não precisaria ir muito longe: melissa continua escrevendo as coisas mais tristes do mundo. E em inglês. Como esse último post que está lá, sobre fumar o último cigarro e não conseguir dormir mais. Praticamente posso ouvir P.J.Harvey cantando isso. Ou então, Jorge, quem sabe enfim fazemos nossa própria banda depressiva, que só se apresentará em dias cinzentos e noites chuvosas. Que tal?

quarta-feira, maio 22, 2002

Pra que servem os amigos?
Não foi combinado, mas meus três amigos com blogs, , Jorge e Melissa, deram uma notinha para a inauguração do meu modesto estúdio. Gracias, caros. Em cada um dos casos foi uma alegria boba ver meu nome lá e comentários simpáticos.

terça-feira, maio 21, 2002

Livros de areia

Nosso Homer ilustrado, o criador de SuburbanLimbo, falava o outro dia de algo que ele queria que inventassem: um leitor de blogs, onde você pudesse reunir todos os blogs que lhe interessam e ir somando outros a cada momento. Pode-se fazer um portal, claro, mas ele imaginava algo mais prático. Entendo o ponto de vista dele. Cada dia descubro dois ou três que queria continuar lendo. Não se pode ler todos, por supuesto. Uma vida inteira não seria o suficiente, estamos no campo do incontável aqui, do Livro de Areia de Borges.

Ainda Borges: há algo de Aleph nisso: o ponto de onde se pode ver tudo. A visão totalizante e esmagadora da totalidade. Curioso ver essas teorias se realizando na web. Como a de Cortazar, citada abaixo. Outra cortazariana: a Cidade. Um lugar com que vários amigos sonham. Uma cidade, com canais, pontes e ruas que amigos visitam em sonhos. Ocasionalmente se vêem de relance, se perguntam no outro dia: você não estava lá? Também foi cumprida de uma forma, com os mundos virtuais da web, com portais onde se incorporam personas, com as comunidades online. Tudo isso é muito lindo e ocasionalmente aflitivo.

São tantos, tantos, tantos. De uma certa forma, lhe dá esperança na raça humana. No número de pessoas inteligentes que existem. Acabei de abrir um blog italiano, life,love,regret, onde ele deu um novo significado a s&m: smart and miserable. Desnecessário dizer que adorei isso.

Belo design e idéias vagas de uma garota inglesa:dissolved girl.

Adventures in dating cumpre a promessa do nome. Uma jovem profissional de NY, beirando o desespero, apela para uma agência de encontros. E conta tudo, com uma sinceridade impressionante.

And so on and on and on.

segunda-feira, maio 20, 2002

A perfeita tarde gris
Almoçando com a almodovariana Lu, falávamos de Cortazar e Rayuela e de como o livro antecipava os links da web. Buscando mais tarde trechos para mandar como um regalito para a bela, achei essa pérola: o Rayuela-o-matic, um leitor web do livro. O projeto é um primor. Cortazarianos de longa data, como eu, mas proativos, resolveram tomar nas mãos a idéia de pôr o livro online, com a beleza de cada leitor se responsabilizar por um capítulo. É um primor de experimento patafísico, uma justa homenagem e uma chance para quem ainda não leu o mestre. Para uma tarde cinza como hoje, é a leitura perfeita.

domingo, maio 19, 2002


Sem grande pompa nem circunstância, declaro aberto meu estúdio online. Um work in progress que aos poucos deve pôr no ar meus quadrinhos, tiras, projetos e quetais. No momento dá pra ver três ou quatro desenhos e é isso. Mas se você disser que achou lindo, quem sabe eu me animo e continuo. Vá lá.

sexta-feira, maio 17, 2002

A primeira carteira de cigarros
Sim, estou fumando, amigos. Devo ser oficialmente o mais velho novo-fumante do mundo. Não tinha nem experimentado fumar até os 34. Um comentário de um amigo sobre como eu seria o típico fumante me deixou pensando. E, próximo do final da primeira carteira, confirmo: sim, faz sentido pra mim. Percebi que acompanha meus hábitos: emoldura minhas audições de jazz nos phones tarde da noite, minhas madrugadas na internet, pra não falar da satisfação absurda que causa depois do café que vem depois de um almoço feliz. O entusiasmo típico dos recém-convertido a qualquer coisa. Aguardem loas à fumaça. Zanuzzi, entendi seu exílio no corredor.

quinta-feira, maio 16, 2002



Não, eu não tenho nenhum discurso estético-sociológico para justificar Gisele Bundchen aqui, fora eu ser absolutamente louco por ela. Posando de bela da tarde. Catherine Deneuve revista e ampliada. Beautiful. O ensaio completo você pode ver aqui.


segunda-feira, maio 13, 2002

Sobre mediocridade gastronômica e o significado disso na vida em geral. Encontrado no suburbanlimbo. Vá até lá se você quiser ver a foto do casal, ou ler os outros posts bacanas dele. Mas ele acertou particularmente nesse.


" All through dinner, I starred at this couple sitting behind Jake. Older. My guess is from the Midwest (they sounded that way). Barely spoke to each other. The reason for my fascination was the woman. We're eating in a fairly fancy place (a $75 bucks head is not unheard of) and she's drinking a tall glass of Orange Soda.

Maybe there's a fine reason. Maybe she owns the company and only drinks orange soda. Or maybe she a former drunk and that's how she stays sober. Maybe. But here's what I think. I think she's been drinking orange soda since she was 10 years old. She orders it everywhere and drinks it with everything. And that made me sad. It made me sad because that woman and her husband look like good, solid American citizens. Republicans, Fox news viewers, Bush supporters. The kind of folks who vote, who demand tax breaks for their dairy business but hate welfare, the kind who support any bill with the word America in the title. In short, the kind of Ma & Pa, average Americans who run this country. And yet, with all that power, she is so sheltered that she drinks the same Orange Soda she's been drinking since the age of ten. It doesn't seem right.

Look, they don't need to be wine snobs, but I'd like some little bit of proof of a sophistication worthy of their age. Proof that they've learned something since their teen years. Do we really want to be led by people who haven't changed their drinking habits in 50 years? I don't. It almost makes me envy the French. "

sexta-feira, maio 10, 2002

Bananas & peanuts


Americanos são overachievers. Gente que faz. Já falei isso aqui e de uma maneira negativa, mas o que não posso deixar de admirar é como eles pegam um minúsculo projeto e dão corpo a ele, criam uma estrutura, transformam em um modo de vida, em um ganha-pão e sabe-se lá o que mais. Nada é pequeno demais para ser levado a sério nem nada é grande demais que os assuste.

Veja o caso de Andrea Scher (acima) e seu Superhero design. Ela faz colares de contas coloridas. Descrito assim parece uma atividade inócua, quase-hippie e convenhamos, não muito interessante. Mas vá no site dela pra ver o que ela fez disso. Polaroids de amigas usando os colares; gente interessante, engraçada, cores absurdas, links para os projetos pessoais dela (ela é uma pintora muito honesta), enfim, todo um conceito em cima de, veja você, colares de contas. A idéia é tão simples e a realização do projeto é totalmente despretensiosa, mas meu ponto é - aqui no Brasil qualquer amigo seu tem idéias mais interessantes 3 vezes ao dia, mas quem realiza?

Fim do sermão. Vá ver.

quinta-feira, maio 09, 2002



Cowboy Junkies pela manhã. Dois clicks no discman e estou em um mundo diferente, longe das intrigas e mesquinharias do trabalho. Você quase pode ver a manhã enevoada de onde eles cantam. Os amplos espaços, uma certa falta de perspectivas e aquela tristeza inefável na voz de Margo Timmins. Por algum motivo, isso me faz feliz.

terça-feira, maio 07, 2002

O fracasso de Baco

Almoçando no shopping, comendo aquela comida hedionda que eles tem para oferecer, me ocorre que ali seria o cenário perfeito para o purgatório.

As almas vagariam ali sem vínculos, sem crédito, incapazes de conseguir satisfação e comendo aquela comida horrível.

Mais ou menos como já acontece.


Não, eu não estou escrevendo poesia, como insidiosamente sugeriu Jorge.

Poesia pra mim é a área de onde todos os amadores deviam se afastar, para evitar danos maiores à sociedade.

O que você vê no post abaixo é uma letra do disco de Anne Sofie Von Otter e Elvis Costello, que não posso recomendar o suficiente. Para dias bons e maus.

domingo, maio 05, 2002

Its april after all

It's really coming down

It's raining cats and hounds

It's falling on parades
and on the plans we made

But there'll be other days

when things will turn our way
and rain will start to fall

it's april after all