segunda-feira, abril 30, 2007

Sempre desprezei Garfield como uma tira banal, desenhada tão friamente e com uma linha tão morta que qualquer desenhista contratado poderia executá-la. (Como de fato acontece: Jim Davis não desenha a tira.) Ao contrário da alma de Peanuts ou da inventividade de Calvin (e de suas existências gráficas, pessoais, intransferíveis), Garfield é um produto. Inimaginativo, insípido e reconfortante, bom para quem gosta de ter a mesma experiência de novo e de novo e de novo. Como pão de forma ou comida de microondas.
Agora um artigo na slate conta em detalhes porquê..
Davis makes no attempt to conceal the crass commercial motivations behind his creation of Garfield. Davis has the soul of an adman—his first job after dropping out of Ball State, where he majored in business and art, was in advertising—and he carefully studied the marketplace when developing Garfield. The genesis of the strip was "a conscious effort to come up with a good, marketable character.
In his 1982 interview with Shapiro, Davis admitted to spending only 13 or 14 hours a week writing and drawing the strip, compared to 60 hours a week doing promotion and licensing.

quinta-feira, abril 26, 2007


Entre uma página e outra, tempo para um exemplo rápido: cliquem para ver a imagem ampliada e percebam a exatidão dos "rabiscos" do Henfil: cada coisa tem exatamente o detalhe que precisa ter. Notem como os tanques vão se simplificando conforme estão mais longe. Claro, isso é bom senso, mas o que tem de desenhista que não entende isso...

Isso sem falar na eficiência absurda de concentrar toda a ênfase na expressão dos personagens. Tudo é expressão. O corpo é gesto, movimento, quatro ou cinco risquinhos que fazem todo o trabalho, sem chamar atenção. Ah, e o uso sensacional do espaço em branco.
como diria algum personagem de filme b, time is not on my side. estamos fechando o segundo volume do pasquim e os dias estão cheios. queria ter tempo inclusive para falar sobre o que ando vendo ali. assim como o restaurador de quadros do louvre deve ter uma visão dos mestres que não posso imaginar, conviver de perto com esse material maravilhoso aumentou imensamente meu respeito por esses desenhistas. henfil, por exemplo. vendo de relance eu sempre avaliei como uns rabiscos interessantes. vendo em volume e de de perto, ficou claríssimo para mim o quanto aqueles rabiscos eram precisos. por trás da espontaneidade há um raciocínio gráfico claríssimo. você vê exatamente o que você quer que ele veja. confusão nenhuma.
coisas assim.me dá vontade realmente de entrar em detalhes, de dar exemplos, de falar do jaguar, do ziraldo, do caulos, dessa constelação que criou o pasquim. mas o tempo...

quinta-feira, abril 19, 2007

as fotos facilitaram tudo.com que conforto os jornais classificaram cho seung-hi como um monstro. um psicopata. ufa. com que conforto o cidadão médio recebe essa classificação. ahhh. ele não é um de nós. foi ele, foi ele.
e os outros? e os colegas a quem ele dedicou tudo isso? os que o ignoraram ou debocharam ou hostilizaram ou sabe-se lá a que ponto anda essa crueldade jovem americana, esse sistema de castas? todos esses 2.000 filmes americanos que vi até hoje estavam mentindo? não há um sistema cruel de castas no colégio, na universidade? os populares, os losers, os freaks. o outro. o inimigo é o outro. o estrangeiro, o alien, o que-não-sou-eu.
o que quero dizer é que há uma dinâmica. pode até haver uma psicose, mas a panela de pressão acelera o processo. no meu ponto de vista, todos os colegas apertaram o gatilho juntos.
(como no rio, amiguinhos. tiroteio entre traficantes e polícia mata 13. aceito o argumento: quem compra drogas é cúmplice. quem proíbe as drogas é cúmplice. quem vira o rosto para a miséria (todos os dias, todos os dias) é cúmplice. somos todos.)

segunda-feira, abril 16, 2007

eu já sei faz tempo, mas talvez você não saiba que ela não é só um rosto bonito. jana também tem um blog onde ela junta letrinhas. hoje ela conta tudo que você precisa saber para trabalhar em uma livraria.

eu sou nerd, você é nerd, somos todos um pouco nerds. se eu estou escrevendo esse blog e você lendo, well, somos nerds. mas temos salvação. queor dizer, temos vida social, sexo, senso de ridículo, essas coisas. agora, existe o nerd terminal. aquele que está a um passo da falência múltipla.a um passo de não funcionar. esse que vi hoje e rabisquei aqui era um desses. e não, ele não tinha 15 anos. estava no caminho dos 30. virgem, obviamente. e, acredite, ele era pior do que o desenho. a coluna era mais curvada, a barriga maior, o ar de abstração, infinito. o guarda-roupa, um lugar misterioso e hostil.
algumas coisas você só o entendo o sentido de fazer quando faz. copiar os mestres é uma delas. parece uma atividade estúpida, vã. mas longe disso. há uma compreensão interna que acontece, de ver o maquinário por trás da pintura, de entender profundamente. olhar por cima do ombro do mestre, por alguns momentos. tive uma seção muito feliz com el greco. aqui, no flickr.

quarta-feira, abril 11, 2007

o site é modesto, faltou dinheiro, tempo e competência para fazer, mas vocês podem conhecer nosso catálogo. o site da desiderata.

segunda-feira, abril 09, 2007


como já disse o ziraldo, se o sujeito se esforça e desenha todo dia, de vez em quando sai alguma coisa que te deixa orgulhoso. foi o caso aqui.

quinta-feira, abril 05, 2007


Copacabana está sendo bem tratada, mesmo antes de estrear. Aqui uma nota no globo e aqui, uma bela, bela matéria sobre os quadrinhos da Desiderata, entre eles Copacabana.

quarta-feira, abril 04, 2007

ah, david lynch. sim, eu confesso:não é sempre que eu tenho a coragem de entrarnos corredores escuros dele ou me perder nos labirintos, mas minha admiração por ele é enorme, enorme, enorme. se existe ainda alguma arte no cinema, certamente vem dele.
nessa belíssima entrevista (clique no anúncio para poder entrar na salon) ele fala do filme novo, que parece mais radical do que qualquer outro: ele começou a filmar completamente sem ter idéia do que ia fazer. ele simplesmente se apaixona por certas idéias ou situações, realizar um delas, realiza outra, vê como elas se relacionam e acredita que no final o todo vai criar sua prórpia coerência. ou não. e insiste: nem tudo que está na tela é para ser entendido. se perca. passeie. get lost. nesse sentido, o dvd me parece fundamental. veja um pedaço hoje, outro amanhã... é como um livro mais difícil, que você não consegue ler de um fôlego.
além disso, ele está lançando um livro sobre arte e meditação, uma marca de café
e uma fundação para elevar a consciência mundial. uh, ele também é pintor, escritor e designer de móveis. para um homem que ama tanto os sonhos, quando é que ele acha tempo para dormir?

ah, sim. o café.

terça-feira, abril 03, 2007

a primeira rejeição? eu devia ter 6 ou 7 anos, estava no circo (com quem? não lembro) e morrendo de sede e à minha frente um garoto tomava uma fanta que parecia sublime naquele momento. então me enchendo de uma coragem que não tinha, pedi para ele: - Você me dá um gole?
ele me olhou com a indignação própria para o momento, movendo ao mesmo tempo a fanta para longe de mim e disse com toda a ênfase: - Não.
Oh boy. doce infância.