Aos dezoito anos eu lia um livro por dia. Ou a cada dois, vá lá.
Hoje eu sou o que em Vanilla Sky chamaram de pleasure-delayer. Gosto de deixar cada capítulo reverberar em mim, deixar o eco se extinguir. Mesmo um bom parágrafo pode valer a pena uma pausa, o tempo de levantar, tomar uma água, olhar pela janela.
Uma quebra significativa no livro, como o final de um ciclo ou de um evento importante geralmente é o sinal para eu deixá-lo de lado e retomar no outro dia. Dormir enquanto o personagem dorme. Isso dá uma organicidade para a leitura. E ocasionalmente coisas curiosas acontecem.
Há mais do que um eco do livro no mundo “real”. Você se vê no ônibus lendo um trecho onde o personagem narra uma viagem de trem. Você se sente particularmente cansado, estica as pernas e o livro narra o fim de um dia particularmente cansativo. Ou o que é mais significativo, você sente como se o narrador comentasse a sua vida, algum aspecto muito particular daquele momento. Acontece. É uma coisa meio cortazariana, mas olha, acontece.
(E deve ser por isso que fui perdendo a coragem de ler certas coisas. Under the Volcano, o livro de Malcom Lowry em que foi inspirado o magnífico filme de John Huston, está lá na prateleira me esperando há quase um ano. Mas a estória do cônsul alcoólatra que busca o precipício desesperadamente me afasta. Olho para o livro com uma certa volúpia, mas penso de novo e de novo: eu quero experimentar esse desespero, essa estação no inferno? E a resposta continua sendo não. Sei da minha capacidade de espelhar um mood, de entrar nas botas do personagem e não quero habitar aquele corpo aflito. Sorry, Malcom.
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