quarta-feira, junho 30, 2004

ainda no túnel da doença, se me permitem palavra tão dramática pra coisa tão simples. mais no sentido de alterar sua percepção. mas como outras coisas que tenho experimentado, viver com intensidade resolve as situações. ontem dormi cedíssimo, tive calafrios, suei frio, etc, etc. hoje melhor. possibilidades de afeto também no horizonte. isso anima o ser humano.

por conta disso, hoje não tem improvisation society, mas amanhã certamente. you wait and see.

terça-feira, junho 29, 2004

não lembro mais em qual livro, mas henry miller descrevia um casamento tão ruim que ele estava que o momento mais feliz foi quando ele ficou doente. ele lembra desse período como umas férias maravilhosas, onde ele podia flutuar, semidelirante, do quarto até a cozinha, profundamente aliviado de estar fora por algum tempo daquela relação. porque a doença faz isso, ela é um passe para fora do mundo. ela cria uma distância entre você e o mundo e tira as decisões das suas mãos. você não precisa decidir nada quando está doente.

isso porque a velha renite atacou de novo. hoje em dia eu faço de tudo para combatê-la e para não me entregar, mas lembrei de um tempo em que havia um prazer mórbido em se entregar assim, em poder desistir da vida por algum tempo.

mas sabe-se lá. talvez o certo seja viver esse afastamento, essa desistência integralmente para voltar à vida depois. não sei. juro que não sei. meu amigo pellegrin me diz que estou por demais guloso com a vida. pode ser.

segunda-feira, junho 28, 2004

a vida como projeto de arte, dizia ela. ou algo assim. jorge e fê fazem quase isso. aliás, escrevi pra eles dizendo isso - que se aquilo fosse propaganda de um modo de vida eu já teria comprado. é a fotonovela mais linda que já vi.

tive momentos nesse findi que mereciam fotos. a luz certa, as janelas abertas para o mundo, um bem estar. talvez me reste fazer em quadrinhos. :)

resumo da ópera

gostaria de poder contar a rede de coincidências que regeram esse final de semana sensorial, afetivo e com uma quantidade inimaginável de nicotina e cafeína. mas nem tudo se conta, vocês sabem. mas foi bom.

sexta-feira, junho 25, 2004

diga ao povo

então aparentemente é com apoio popular que sigo na improvisation society. apesar do nome infame, de acordo com jorge. :) mas pensaremos coisa melhor. até porque esse é o nome do processo, o nome do jogo. tirando algumas coisas que são muito circunstanciais, como aquela do maluf, a história da deusa me animou com a idéia que isso tudo pode ser mesmo reunido um dia como um livro, um álbum, uma coleção de fragmentos. pode ser interessante. muitas histórias podem se (in)filtrar por esse processo. histórias que estavam esperando para acontecer. há um entusiasmo aqui. ontem quase não durmo e precisei de lobotomia televisiva intensa para acalmar esse cérebro febril. (o vinho também ajudou). voltamos na segunda-feira. baccio.
perfeito o raciocínio de consuelo:

Vamos imaginar que o governo americano, depois de apoiar freneticamente os militares brasileiros na época da ditadura, ficasse de mal com eles, como aconteceu com Saddam Hussein. E resolvesse libertar os brasileiros daquela ditadura que ajudou a criar, Madalena arrependida. Então, depois de invadir o país, matar dezenas de centenas, entre eles centenas de inocentes, e abusar de nossos prisioneiros tal qual a ditadura fazia (entre outras trapalhadas possíveis de imaginar ou deduzir), o governo americano e seus aliados devolveriam a nossa soberania na forma de um administrador escolhido a dedo e por eles. Só não me diga que neste caso você estaria disposto a lutar pelo seu país, como este bando de iraquianos extremistas.

me admira não ter visto formulado dessa forma antes.

bravo, bella.

quinta-feira, junho 24, 2004

síntese

eu amo poemas curtos, canções concisas, trailers de cinema, antepasto e preliminares em geral. além de descobrir no vanilla sky que sou um pleasure delayer, menos é mais pra mim. isso pra dizer que talvez tenha encontrado um filão nessas histórias curtíssimas. andava me atormentando por demais tentando fazer histórias longas. estava lá tentando costurar meus fragmentos pessoais para essa tal primeira história, para o primeiro álbum e me ocorre que talvez ele possa ser feito exatamente disso. de pedacinhos que se conectam ou não. fragmentado como é nossa vida. não há continuidade. há uma ilusão de, como no cinema, em que nos parece que as imagens se movem. umas das contistas que amo mais é jayne anne philiphs e ela tem contos de meia página. perfeitos. borges dizia que o romance é o monstro impuro. quem sabe. são elucubrações.

quarta-feira, junho 23, 2004

os fregueses habituais do café devem ter notado que o conteúdo pessoal diminuiu e o conteúdo nerd tem crescido. e é assim mesmo. o blog imita a vida. do trabalho para casa e viceversa. vou colocar uma placa como aquelas de "tantos dias sem acidentes". três finais de semana sem sair e contando.

improvisation society

surpreendi a mim mesmo e, imagino, aos outros, dando continuidade ao projeto de ontem. agora chama-se improvisation society, for falta de nome melhor (aceitamos sugestões) e tem um site próprio. muito libertador trabalhar dessa forma. e o de hoje tem maluf, quem diria. está aqui.

terça-feira, junho 22, 2004

comecei ontem (estreando hoje) uma série nova. entre uma história e outra geralmente se passa tempo demais. é o limbo, pra mim um tempo terrível, em que fico sem pátria, sem teto.. qualquer autor pode lhe confirmar isso. mesmo o velho jorge amado dizia que só era escritor quando escrevia. então comecei uma série de pequenos improvisos, peças curtas, feitas em um dia, colorizadas e publicadas no outro. a primeira, em que me permiti ser incrivelmente bobo já está na capa dos sad comics. vou avisando conforme sairem as próximas. enjoy.

segunda-feira, junho 21, 2004


um daqueles projetos que não devem sair nunca, mas enfim. queria quadrinizar ghost dog. I just adore this movie. e essa imagem está aqui por graça do hello, um programa para compartilhar imagens que fê me apresentou. você pode conhecer clicando no iconezinho embaixo. para publicar imagens no seu blog é maravilhoso e para trocar imagens online com os amigos idem. mais uma tralha para nos entreter nesse mundo. Posted by Hello

sexta-feira, junho 18, 2004

hoje o dia sorri, milagre dos milagres. coro dos anjos, aleluia. talvez porque ontem desenhei. (as coisas mais absurdas, minha tv, a janela, o gato, os livros...com obsessão absurda, com a idéia de que há um desenho exato de cada coisa e não mais do que isso.) talvez porque sol, soooooool nessa cidade falsamente londrina. mas enfim, sorri.

quinta-feira, junho 17, 2004

não é que eu esteja necessariamente com sexo na cabeça (de uma certa forma sempre estamos), mas os links me levaram a isso. reencontrei um blog que segui por um bom tempo, o belle du jour, um diário muito bem escrito de uma prostituta inglesa. aliás, na lista de links dela você pode se surpreender com o número de prostitutas inteligentes que tem blog e escrevem de maneira extremamente articulada sobre o que fazem. no site da belle, aliás, você encontra cada vez menos sexo. aparentemente ela está em negociações para lançar um livro. mas achei nos arquivos esse trecho sensacional, que dá uma boa idéia do perfil dela - discutindo martin amis com um cliente enquanto tira a roupa.

He stood, trousers off. I sat in a chair in front of him. My shirt (white, as requested) was half-unbuttoned. "I want to write my name in come all over you," he said.

I smirked. "You can't fool me, you nicked that line from London Fields."

He looked at me strangely. Oh no, I thought. Better watch my mouth. "Amis fan?" he said idly, pulling himself with one hand.

"He's not bad," I said, reaching in to the shirt to pull my breasts free of the bra.

"Time's Arrow was pretty tricksy though." A glistening drop of pre-come lolled the tip of his glans.

"Very high-concept. Good book for a long train journey." I pulled at my nipples to his appreciative nods.

It was hot and close in the room. The weather has not been so bad and I thought of asking him to turn the heating off. "I want to smell your sweat mixing with my spunk," he said, as if reading my thoughts.

oh brave new world

como eu acho que vão inventar alguma coisa melhor que o casamento, mas ainda não inventaram, aí vão algumas sugestões. Dicionário roubado do site de mistress matisse, uma dominatrix profissional. e você pensou que a sua vida era complicada...

Basic Poly Glossary

Poly: Short for polyamorous.

Polyamory: The non-possessive, honest, responsible ethical philosophy and practice of loving multiple people simultaneously. Based on the conscious choice of how many partners one wishes to be involved with, rather than accepting social norms that dictate monogamy as the only acceptable form of love.

Non-Monogamy: In general, this is simply another way of saying "polyamorous". It is sometimes felt to have a slightly different meaning, since the word "amour", meaning "love", is not present in the root word. This is sometimes felt to mean that the person using this term may have more casual relationships.

Polyfidelity: A group - of any size - in which all partners are primary to all other partners and sexual fidelity is to the group. More primary partners can be added only with the entire group's consent.

Dyad: A relationship consisting of two primary partners.

Triad: The most basic and common form of multipartner relationship, consisting of three adult primary partners.

Primary Relationship: A committed, long term, live in relationship which may or may not include marriage and/or shared economy.

Secondary Relationship: A relationship in which the partners usually do not live together, and do not consider their relationship a first priority.

Tertiary Relationship: A friendly but casual sexual relationship of an occasional or temporary nature.

Group Marriage: a marriage in which three or more adult partners are married to each other. A group marriage may be open, closed or inclusive.

Polygyny: (poly=many; gyno=woman) Polygamy in which one man has two or more wives at the same time.

Polyandry: (poly=many; andro=man) Polygamy in which one woman has two or more husbands at the same time.

Polyfidelity: (poly=many; fidelis=faithful) The state or practice of sexual exclusivity among a group of three or more primary partners. A closed group marriage emphasizing equal primacy of all relationships.

quarta-feira, junho 16, 2004

mas numa coisa fê tem razão: você pode até achar isso. mas não faz bem pensar sobre isso. senti minhas forças meio se esvaindo depois de escrever esse post. vou usar de uma filosofia mais gabi. vou ali comer um sorvete e já volto. com fanta uva, quem sabe.

if you´re feeling sinister

livre associação de idéias:

conversando com fê pelo messenger, comentei que basicamente o que me prende a esse mundo ainda é essa obsessão infantil com a obra. e como tal não consigo imaginar como fazem para levantar da cama todos os dias as pessoas que não tem essa obsessão.
há essa idéia de que a vida em si já é interessante bastante. não é que eu duvide, mas me parece que nossas vidas são tão mais complexas hoje em dia, tem tantos casamentos, separações, mudanças, empregos, que você pode se sentir cansado bem antes do que era esperado. a máquina dura cada vez mais, podemos chegar aos 60 em relativa forma, aos 70 com alguma dignidade and so on. mas haja motivação. existem ainda muitos livros pra ser lidos, vá lá.
woody allen faz uma lista pessoal, em manhattan, das coisas que valiam a pena no mundo. cada um tem a sua. mas o valer a pena é mais embaixo, me parece.

o próprio esforço necessário simplesmente para manter a máquina funcionando pode parecer intolerável ocasionalmente. são cabelos e unhas que crescem, alimentos, preservação...frankly. perguntaram a alan moore porque ele mantinha aquele cabelo de hippie da idade das trevas. a resposta: não consigo me dar ao trabalho de cortar os cabelos.

outra história sensacional - uma amiga, nascida com o mesmo vírus da dúvida, ali pelos 10 anos encontra o pai bebendo, ouvindo frank sinatra na penumbra e francamente deprimido. ele, reconhecendo que perpetuou a miséria dele nela a pega pelos ombros e lhe diz: se prepare. você vai pagar por ser assim.

oh boy.

terça-feira, junho 15, 2004

aliás, a história de onde veio o desenho acima me agradou muito. é como disse um clip, uma visualização para uma música do style council, onde o personagem mergulha e, em vez de um navio, vê sua vida como restos de um naufrágio. depois da 200ª audição (fran deve lembrar, eu estava impossível com isso) me convenci que estava obsecado. e cometi a tal história. eu gostaria de colocar no site, mas meu editor no rio, lobo, me pediu para não publicar porque comprometia a revista, etc. a revista é a mosh, uma idéia bem bacana, uma revista de rock e quadrinhos, que é vendida principalmente em shows. formato de bolso e dura o tempo de uma cerveja para ser lida. pode ser comprada pelo correio, para quem se interessar. minha primeira história saiu no número 3 e essa diving na 4. hora dessas acho uma maneira de compartilhar online com os amigos. enquanto isso, segue a letra.

I'll keep on diving til I reach the ends,
dredging up the past to drive me round the bendz,
what is it in me that I can't forget
I keep finding so much that I now regret.
But no, on I go down into the depths
turning things over that are better left
dredging up the past that has gone for good
trying to polish up what is rotting wood.

Something inside takes me down again
diving not for goblets but tin cans
dredging up the past for reasons so rife
passing bits of wrecks that once passed for life.

But I'll keep on diving till I drown the sea,
of things not worth, even mentioning
perhaps I'll come to the surface and come to my senses
but it's a very deep sea around my own devizes.

Diving, diving.

de como o subconsciente é golpista - sonhei que ia para a cadeia e tudo que eu pensava era - bom, pelo menos eu vou poder desenhar quadrinhos em tempo integral. sensacional, uh. era uma prisão como aquelas americanas - enorme e os presos com uniforme. e melhor: era mista, haha. homens e mulheres, conversando calmamente no pátio.

o curioso é que eu consigo traçar exatamente a origem do sonho. durante o dia conversei com outro desenhista e ele dizia - tudo que eu quero é que me deixem trabalhar, que eu possa sentar e desenhar. isso se somou a um filme horroroso que passava na tv, com aliens escravizando os humanos. porque a contradição em termos é que, se você está preso você não precisa tomar decisões. de uma certa forma você foi liberado. a outra fonte do sonho é mais antiga, é um livro chamado a fonte, onde um escritor é feito prisioneiro de guerra (não lembro se na 1ª ou 2ª) e fica felicíssimo, porque enfim ele poderia escrever o livro que sonhava, um estudo filosófico incrivelmente ambicioso.

o resto eram aquelas coisas de sonho - me davam o número da minha cela e eu andava por corredores e corredores em achar nunca a minha, etc. ah sim, e eu tinha uma longa conversa com uma presa bem interessante. oh boy. o que é uma mente golpista. trapaceia até no sonho.

enfim

ok. enfim, enfim. o último post cosmético. essa é a cara do site, design cortesia do bravo cavaleiro jorge. o desenho acima é meu, a partir de uma história que fiz e vai sair na mosh, uma espécie de clip para a música diving do style council. casa nova e não se fala mais nisso.

segunda-feira, junho 14, 2004

mas como meus cinco leitores não vem aqui pela estética, mas por minha infinita sabedoria, aham, fuck off. the show must go on. essa é sua vida, vivida em público, como quase todas nesse quase fim de mundo. aliás, eu queria escrever como carolyn, que dudu descobriu e que parece escrever com o teclado conectado ao corpo. beautiful. essa mistura de vida com algum pensamento a respeito faz o blog ideal, me parece. surfamos para vampirizar vidas alheias, por emoções sintéticas, por substituição. imaginei um roteiro algum tempo atrás sobre isso. um futuro próximo onde realmente todos vivêssemos em público. os meios de transmissão seriam ubíquos e você transmitiria toda sua vida, todo o tempo. não seria obrigatório, mas se olharia com desconfiança para quem não o fizesse. transmissão contínua de dados, nossas vidas entrelaçadas por todo o mundo, o fim real da privacidade. no final desisti porque isso já está aí, na esquina. essa já é sua vida.
esse blog parece uma mulher em crise, trocando de roupa histericamente antes da festa. dio. digamos que esse preto é mais suportável enquanto penso em algo melhor. o tal pretinho básico. (sendo que acabo de perceber que perdi meus comments. oh boy.)

sexta-feira, junho 11, 2004

todo mundo tem sua opinião sobre quais são os grandes livros e nesse aspecto, sua opinião é tão boa quanto a minha. mas um livro que me surpreende de ser tão obscuro é esse The Moviegoer, de walker percy.
comprei em um sebo, anos atrás, como tantos outros, vagamente atraído pelo título. (eu sou um moviegoer e entendo a compulsão). o livro foi publicado em 1960 e, in my humble opinion, segue aonde salinger parou com seu apanhador. o personagem se afundou na vida mais anônima que conseguiu encontrar ( a escolha que não vemos o personagem de salinger fazer) e foge da beleza como do diabo. a beleza como o perigo do abismo. ao mesmo tempo ele tem uma "busca". que já foi vertical (no sentido que podia ser efetuada em qualquer lugar) por uma horizontal, onde a percepção do cenário é tudo. então, antes de entrar em um filme, ele conversa com a bilheteira. ele precisa saber quantos filhos ela tem , quanto ela paga de aluguel...assim ele não corre o risco de sumir durante o filme. ele restringe sua vida sentimental às suas secretárias, que de uma forma são sempre a mesma, ele faz dinheiro, ele é terrivelmente cínico. e terrivelmente honesto por isso mesmo. como todo bom livro, é inexplicável. reli nesses dias e fiquei tentatdo a ler de novo. e no finado still life eu tinha escrito um post mais explicativo que segue abaixo, se sua paciência chegar a tanto.

“When she was sick for the first time”. That’s the sort of passing reference they use when talking about Kate. And you don’t know if should worry more or less because of that. The book has a peculiar way of saying important things with a careless voice. You never see a big speech coming, the sort that make actors inflate their chest and modulate their voices. All is said in a passing manner, as if it doesn’t matter, as if it is circunstancial. I recognize that voice. I have a friend very much like that, who would be tottaly embarassed on making things seem bigger than they are, who has to sound casual about everything.
Talking about Kate’s sickness, it says, for example: “When she was a child and her mother was alive, it used to seem to her that people laughed and talked in an easy and familiar way and stood on solid ground, but now it seemed that they (not just she but everybody) has become aware of the abyss that yawned at their feet even on the most ordinary occasions – especially on the most ordinary ocasions. Thus she would a thousand times rather find herself in the middle of no man’s land than at a family or luncheon club.”
Even that I would say I never felt like it was easy and familiar, I’m very much aware of the abyss. Actually, this little passage explain much of my present isolation. Without a sweat. And so goes the book. Its called The Moviegoer, and that must be one more point of identification for me. We, moviegoers, are one particular tribe, I suppose.

o feriado foi de uma chuva tenebrosa e passei em casa desenhando, consumindo substâncias, comendo feito um condenado e fumando idem. ah, e estreei meu mac. é velho, coitado, mas é enfim um mac. sentado no chão, aliás. mandei reformar uma escrivaninha antiga e demora como se viesse do século dezenove a pé. então o mac estava sobre um tapete e eu sobre uma almofada. mas rolou um sentimento. nós, que amamos as máquinas.

quarta-feira, junho 09, 2004

o post abaixo rendia mais uns dois com essa relação doença-criação. os exemplos abundam. salinger, que buscava a perfeição absoluta no texto, já se sabe como vivia: como um ermitão completo. uma das poucas que morou com ele descrevia a aridez dessa vida, desesperadora para ela. exemplo de almoço: ervilhas. comidas em silêncio e lá ia ele de volta para o estúdio.

lourenço mutarelli, talvez o maior quadrinista brasileiro, é um quadro clínico completo. tem síndrome de pânico, medo do mundo, paixão por remédios... a lista é longa.

daniel clowes, o maior quadrinista alternativo americano. uma entrevista cruel na new yorker descrevia o dia a dia dele. a entrevistadora dizia que quadrinistas quando saem de casa parecem idosos saindo de uma internação no hospital. que ele se vestia como uma americano dos anos 50, etc.

enfim. raros são os picassos, que conseguiram gerar uma obra monumental e ao mesmo tempo estar tremendamente vivos. mas é um equilíbrio para se ter em mente. um equilíbrio delicado. para mim, o trabalho na prancheta me valida, me energiza, me faz sentir um ser humano. mas é preciso também ser humano, estar vivo, amar, ser hedonista aqui e ali. assim andamos sobre essa corda de equilibrista.
o link hoje vem de . ela me tortura com o fato de que ganhou uma das obras de chris ware. o link ela fez a partir de meu pretensioso post de ontem. fica mais fácil eu colar aqui o comentário que deixei no blog dela:

"ahhhhh, eu acho que te odeio profundamente. tudo que eu queria era pôr as mãos em alguma obra do chris ware. esse cara é um monstro. não vai chegar nunca aqui no brasil e pela internet seria uma pequena fortuna.
mas enfim. você tem razão na conexão. obviamente essa é uma obra nascida da miséria, da infelicidade, da perplexidade. e que felizmente vai muito além do umbigo. aliás, chris ware é bem mais doente do que eu. se ele consegue fazer o que faz é porque esse desistiu da vida faz tempo. é um daqueles caras pálidos que nuca vê a luz do dia nem sai da prancheta. vi uma entrevista com ele que dizia que ele nem ia jantar fora. palavras cãndidas dele: "porque depois vou cagar tudo mesmo
".
enfim. eu sei que sou um pouquinho mais saudável. eu tenho lá meu amor pela vida, eu como bem, bebo, olho, pelo menos olho para as mulheres...enfim. deve ser por isso que não vou parir uma catedral dessas. mas farei o possível."

me fica nisso uma alegria pelo menos de ver pessoas fora do meio dos quadrinhos lendo esses trabalhos. você sabe que eu daqui me pergunto se há uma plataforma para se lançar algo de adulto em quadrinhos nesse país. para quem não sabe, a divisão é brutal: há a massa de nerds, que lêem quadrinhos e há o resto do mundo, que não desconfia que eles existem. e eu suspeito que meu trabalho não vai interessar quase nada aos que lêem quadrinhos. daonde se vê que estou numa encruzilhada brutal.

terça-feira, junho 08, 2004

o paralelo quadrinhos-cinema é injusto com frequência, mas funciona. pois se aproxima a hora de fazer meu primeiro longa, you know? depois de muitos curtas, experiências, etc.

agora me parece que, contra tudo que pensava e desejava, ele vai se alimentar de minha miséria pessoal. claro, mas claro mesmo que não quero fazer mais uma história que vá de A a B e contenha capítulo por capítulo um relato dos fatos biográficos lavados por autopiedade e bile contra o mundo. certamente já há o suficiente disso por aí. e essa autocomiseração branca, classe média, analisada e choramingada é uma bobagem sem fim nesse mundo cão. (mesmo que eu me permita isso aqui, de vez em quando.)

não, só o que tenho percebido no que venho escrevendo é que vai ser meio inevitável ver as coisas desse um metro quadrado onde estou. se tudo der certo, ele vai unir pontas e vai bem além do meu umbigo que, convenhamos, não é tão interessante assim. mas como eu dizia a consuelo em um e-mail dez minutos atrás, esses quadrinhos são minha carta de amor e ódio para o mundo. eles têm que ser, devem ser uma carta que só podia ser escrita por mim. como toda carta digna desse nome. amém.
day 2 and still in a baaaaaad, bad mood. mais do que monday blues. um cansaço de ser eu mesmo.

segunda-feira, junho 07, 2004

para o melhor ou pior, nossos pais viveram a última geração de um-relacionamento-por-vida. então, eles não podem calcular o que é o campo minado do nosso território sentimental hoje em dia. a guerra mesmo, o front, as alianças temporárias, as traições, para não mencionar a miséria infinita. (isso é bom humor de segunda feira. rise and shine.)

não vou aqui me pôr nostálgico e falar que bom mesmo era o tempo deles, até porque sabemos bem que a maior parte desses casamentos se mantinha pelos motivos errados. mas esse mercado das almas, com perdão do meu francês, é foda. e digo mercado das almas por elegância, claro. a alma tem quase nada a ver com isso, coitada.

acho que chega para segunda-feira, uh? as you can see, I´m in a baaaaad, bad mood.

sexta-feira, junho 04, 2004

assim que essa cidade é tão pequena, tão pequena e descubro infâmias de alguém a quem dei meu afeto e outras partes de mim por algum tempo. não me dura muito. é só mais uma mancha no vestido.

devia ser na camisa, eu sei, mas no vestido soa melhor. mais trágico, mais plástico, enfim. ontem eu andava pela cidade e a névoa veio. em dez minutos estava de fato na cidade da névoa. levei minha mágoa para beber. foi bom.
por outro lado, reencontrei esse meu velho blog, empoeirado e abandonado, que estava escrevendo anos atrás. em inglês, ugh, sorry. mas apesar da pretensão, não é que era bem escrito? aproveitei e tasquei um desses modelos novos do blogger. assim o velho vira novo e tchan nan. mirem
eu não lembrava que era tão infernal mexer no template desse negócio. vinte minutos fuçando em html me deixaram frustrado e revoltado. brrr. vi que o blogger tem uns modelos novos, mas é que nem liquidação - daqui a pouco tá todo mundo usando. eu preferia reformar esse meu carrinho velho aqui. mas tá difícil.

outro problema de voltar aos blogs é a ronda dos blogs. você resolve que não pode começar o dia sem dar uma voltinha em todos os conhecidos. que cada dia são mais e mais. essa vida pósmoderna, póstudo...

quinta-feira, junho 03, 2004

posso defender meu direito à esquizofrenia aqui? preciso mudar a cor desse negócio, se eu lembrar como se mexe no template. senti uma felicidade gelada hoje e meio de sopetão esse pastel me incomodou. eu sei que passei dois dias defendendo meu direito de ser velho, decrépito e rabugento. mas não precisava ser pastel, uh?

deve ter relação com a visita de gabi, que tem esse site incandescente, pra não dizer fosforecente. preciso achar um meio termo nessas coisas. eu nunca, atenção, nunca pus um blusão nos ombros como o tio da sukita. também não vou colocar uma bermuda de skatista. deve existir alguma coisa no meio do caminho. mas morte ao pastel.

quarta-feira, junho 02, 2004

ontem fiz uma coisa muito antiga: fui à zona. uno se pergunta porque alguém ainda paga por sexo em um tempo onde ele é tão fácil, mas eu fui pela aura obscura do lugar. não pretendia sair de lá com nenhuma daquelas criaturas. só queria beber naquela luz difusa, ver, ver, ver e no máximo experimentar por uns momentos essa realidade alternativa onde mulheres maravilhosas se jogam em cima de você, em vez do inverso. fui com um amigo, ambos profundamente alterados por substâncias várias. e, suspeito, pela lua cheia, que além de tudo tinha um halo impressionante, um buraco negro gigantesco que a emoldurava.

(isso, vai à zona e pôe a culpa na lua, imagino vocês pensando. nevermind.)

fazia muito tempo que não ia e obviamente tudo tinha mudado tão pouco desde quando o início dos tempos. as mulheres dançando no palquinho continuo achando tristíssimo. é a coisa menos sexy do mundo. de alguma maneira, todo o sex appeal foi retirado daqueles corpos. aliás, pode ser meu masoquismo, mas a mais sexy de todas era uma completamente vestida, de gola rolê inclusive, que circulava entre as mesas vendendo mais o sorriso do que o resto. fiquei um tanto obsecado e se fosse para ter uma sentada do meu lado, eu queria que fosse aquela, em vez de uma das loiras perversas. mas só eu, só eu ia encontrar e me encantar por uma puta difícil. sim, ela fazia mais jogo duro do que qualquer não-profissional. era a própria musa francesa, fria e distante, menos quando agraciava algum mortal com um sorriso iluminado.

não ganhei nem o sorriso, se vocês querem saber. esse sou eu. consigo ser desprezado até pelas putas. sensacional.