terça-feira, maio 23, 2006

quantas vezes eu já suicidei esse blog? várias, não é? pois é. tá lá o corpo estendido no chão. de novo. como todo o suicídio, o bilhete busca causar culpa em quem fica. vocês podiam estar lendo em silêncio, mas meu ego, coitado, não aguentou.

mas ao contrário do que chamam de vida real, um dia esse blog pode levantar da cova de novo. nunca se sabe.

nesse meio tempo, quem quiser notícias, vai ter que digitar letrinhas. quid pro quo. o email continua sendo odyr@hotmail.com

até.

segunda-feira, maio 22, 2006

sábado, o centro cultural carioca estava em festa e era um dia de diversões 0800 como disse uma amiga: de graça. na rua, grafiteiros, teatro, circo e o cordão do boitatá, que é a coisa mais linda. e difícil de descrever. um grupo pequeno, algo como um regional, tocam coisas muito antigas entre sopros e cordas com uma graça muito leve, que pega as pessoas aos poucos. ver o povo todo na rua dançando ciranda me tocou de várias maneiras. fico sempre feliz de ver as pessoas se divertindo mas me bate uma nostalgia impossível, uma tristeza européia do paraíso perdido: tem uma alegria e um abandono ali que nunca vão ser meus. mas sorrio como posso, fumo mais um cigarro. e me apaixono pela moça que canta. ela toca cavaquinho, puxa os cantos com uma sutileza... você quase reluta em dizer que ela é a cantora do grupo, não há um centro fulgurante nela, mas à sua maneira, olhando pro lado, sorrindo tão discretamente, ela ganha a todos. ou pelo menos a mim. são canções obscuras algumas, outras nada, mas todas tem o lustro do passado, uma capacidade de ser quase atávicas, de soar como se sempre tivessem existido e você só está agora lembrando delas. por isso a alegria e dança das pessoas parece tão autêntica, tão despreocupada. são os cantos da tribo, de um brasil que esquece o celular por uns momentos. muy rico.

sexta-feira, maio 19, 2006

lançamento de livro de victor burton numa livraria do leblon, eu um poço de inconveniência como sempre, aquela inadaptação me faz tomar uma cerveja no boteco da frente antes, ouvindo os sórdidos. depois no meio dos finos tomo vinho branco, o que é uma mistura infeliz, me divirto horrores com minha chefe e flerto loucamente com a moça dos CDs, que não é mais tão moça, mas francamente é bem interessante.

ah, a outra que gostei estava flagrantemente grávida, o que nem sempre, mas geralmente quer dizer taken.

sempre o caminho mais difícil.

hoje acordei com uma ressaca muito simpática e logo ouvia rené cantando como a cada manãna...

quinta-feira, maio 18, 2006

há uma arte em ser invisível. eu estou fumando em frente ao trabalho, retardando o momento de entrar quando ela passa. um segundo depois eu a teria esquecido, se não tivesse feito um esforço. tudo nela busca o esquecimento.

ela passa na diagonal, pisando sem fazer barulho. o obrigado que sussurra ao porteiro não é mais do que o movimento dos lábios e não interrompe seu andar. um boné sem aba praticamente lhe cobre os olhos. a roupa é neutra a ponto de desaparecer. consigo guardar uma calça de abrigo preta. posso supor entre 50 a 60 anos, mas o rosto não mostra. o nariz tem um perfil helênico, um detalhe mínimo de beleza que não pode ser escondido. eu acredito que ela mora sozinha e em silêncio. a sacola de compras deve trazer comida para o gato, mas não traz jornais. onde estão as informações que importam para ela? no passado? há uma foto no centro da sala que resume toda a história? ou ela foi um passo além e se livrou de tudo? o que constitui essa vida?


se você falasse com ela no elevador, eu suponho que receberia um sorriso elegante como resposta, que não se deixa confundir com arrogância.

enfim. greta garbo passa e eu tenho que ir trabalhar. com a lembrança da mulher invisível e de outros que, como ela, vivem em silêncio em prédios antigos, desconhecidos dos vizinhos, cumprindo algum desígnio ou destino traçado que nos escapa. que talvez só nos seja revelado se por algum motivo se tornar o nosso.

quarta-feira, maio 17, 2006

manchete bíblica em o globo:

no quinto dia, a vingança

polícia reage com matança em sp

32 mortos na madrugada. dentro daquela coisa indiscriminada: morreu criminoso, inocente (um cabelereiro, mira), mãe de criminoso... um comandante resumiu o espírito bíblico: eles vão morrer dentro da lei. obviamente, a lei do olho por olho.

tempos sinistros.

terça-feira, maio 16, 2006

se a beleza é o encontro fortuito de uma máquina de escrever e um guarda-chuva em cima de uma mesa de operações, como queriam os surrealistas (ou algo assim, não lembro os termos exatos) e os surrealistas são praticamente nossos avôs, porque devíamos nos agarrar a uma idéia de beleza gauguiniana, do paraíso perdido? de uma beleza pura? se você pensa bem, claro, nunca houve uma beleza pura, nem quando o mundo era jovem e não estávamos aqui. a entropia, essa nossa amiga, está agindo desde sempre e há caos e corrupção cozinhando mesmo no oásis mais idílico. o que vemos hoje é só um ponto mais avançado da fervura, por assim dizer. ou talvez seja o fundo da panela, quem pode saber? depois a própria panela se vai, o fogão, a cozinha e o que fica pode ser belo à sua maneira. só que nada fica, tudo está em transformação. é uma questão de abraçar o processo. nossas rugas estão a caminho, se não chegaram ainda e não há nada que se possa fazer a respeito, baby.

isso tudo por um comentário inocente de dani, que viu meu desenho do rio e falou que no desenho, o rio até parecia bonito.

isso e talvez john updike gastando páginas e páginas numa tentativa meio fútil de sublimar seu desconforto com Houellebecq, que lhe mostra um mundo novo que ele não quer ver. parágrafos como esse

But how honest, really, is a world picture that excludes the pleasures of parenting, the comforts of communal belonging, the exercise of daily curiosity, and the widely met moral responsibility to make the best of each stage of life, including the last?


mostram um updike envelhecido, pedindo valores que Houellebecq não tem ou não tem necessidade e/ou desejo de emular. são as agruras da mudança.

segunda-feira, maio 15, 2006

meus posts vêm prontos de fábrica e são como o proverbial novelo: uma vez que vejo o fio, é só puxar. às vezes, eu só fico na dúvida qual deles é o certo. esse por exemplo, veio com três fios, então, no espírito experimental, vou mostrar os três, enquanto ainda lembro:

1) de vem quando levanto meio bêbado nessa mesa de café e resolvo defender stephen king de novo. não que ele precise de defesa. mas hoje é um desses dias.

oh boy, dizem os frequentadores.


2) se algum dia eu resolver dar conta de como passei as horas da minha vida, muitas delas nos últimos anos foram passadas dentro de um livro de stephen king.


3) como todo mundo, faço leituras que são melhor acompanhadas com aquela cara de marília gabriela: mão no queixo, olhar de inteligência. são as coisas que você quer ser pego lendo. geralmente dão trabalho. às vezes compensam, às vezes não. mas como todo mundo, tenho leituras que são, felizmente, de prazer puro. stephen king está no topo dessa lista.


ok, de qualquer um dos fios, o novelo é esse:


acredito que algum dia, ele ainda vai ganhar senão uma revisão crítica, pelo menos um olhar mais amoroso e menos viciado. como um grande escritor popular de nosso século. nesse sentido, acho que me beneficiei por ler no original. talvez eu tivesse vergonha de lê-lo em português, talvez não tivesse começado. mas posso praticamente dizer que aprendi inglês com ele. o primeiro livro inteiro que li em inglês foi dele. different seasons. lembro da primeira linha: I´m the guy who can get it. e a piada é que I couldn´t get it. eu não conseguia entender a maldita primeira linha. muitos kings depois, o navio flui tranquilo e lê-lo é como estar de férias. ele é um amigo ao qual se volta sempre e tem sempre histórias novas para contar. porque é isso que é ele é: uma máquina incrível de contar histórias. às vezes ele perde a mão, sim, (geralmente são livros da fase alcóolatra: ele confessa não lembrar de ter escrito alguns desses) às vezes ele exagera na extravagância da trama, mas no geral ele está naquela linha americana clássica de texto limpo, sem maneirismos, com um ouvido incrível para a língua e uma capacidade de dar cor a tudo: seus personagens nunca são genéricos, nunca são os mesmos. o que aliás.


o que aliás, me deixa possesso quando vejo alguém embasbacado com o código da vinci. quando vi gugu liberato andando por aí com o livro embaixo do braço e dizendo que era "fascinante" vi logo que boa coisa não era.
isso daria todo um outro post, mas basicamente a questão é: dan brown não poderia engraxar os sapatos de king. enquanto king é um escritor autêntico, honesto e de uma voz que consegue permanecer sempre fresca, brown é um artesão dos mais ordinários. alguém que leu a cartilha dos bestsellers e a seguiu à risca, pelo mínimo denominador comum: os capítulos são curtíssimos, acabam sempre num suspense de o-que-vai-acontecer-agora, os personagens são lindos, brilhantes e totalmente genéricos e o livro basicamente é uma gincana ensandecida, uma corrida sem fim nem sentido pela próxima pista.
o que acontece: obviamente o livro é ridiculamente fácil de ler (até o gugu liberato conseguiu) mas, ahã: tem um verniz. fala de cultura! da vinci! uau. isso deve ser bom. me sinto uma pessoa culta! tenho assunto para conversas!
e esse foi o gênio do cafajeste: vender um fusca velho com pintura de ferrari. coisa que king, com sua ética do interior jamais se permitiria. tentar ganhar respeito na marra com um golpe baixo desses.

em vez disso, ele continua seu trabalho: falar de pessoas comuns mas nunca genéricas (o livro bag of bones abre com essa citação que é um credo dele: perto do ser humano mais desinteressante do mundo, toda a literatura não é mais do que um saco de ossos) e dos gêneros que ele ama, embora não recebam nenhum respeito: o terror, o suspense e todos seus subgêneros. e ele vêm abrindo seu espectro cada vez mais: nos últimos anos tivemos um livro sobre a escrita (On Writing) um livro sobre os anos 60 (hearts ins atlantis) e mesmo um gênero que nunca achei que ia tolerar, mas com ele se tornou possível: a saga fantástica. the dark tower é toda uma mitologia que ele criou, ainda que (felizmente) tenha vínculos com o mundo como o conhecemos. mas como não sou king e esse post já está de um tamanho obsceno, fica pra outra hora. para o próximo capítulo. longa vida para the king. amen.

quinta-feira, maio 11, 2006

voltando do almoço, com um café na mão, a digestão por fazer e tempo livre: clico no botão do explorer quase sem pensar. há um milhão de blogs para ler. mas onde está o que quero?

e o que queremos em um blog? primeiro, eu acho que a existência deles prova uma coisa ótima: realmente gostamos muito de ler. não é uma arte perdida. mas o que queremos ler?

uma vida interessante narrada com humor e insight, seria uma boa definição. uma boa dose de voyeurismo. identificação. a sensação de pertencer a um clubinho.
no fundo não buscamos um blog como leitura: buscamos como buscamos pessoas. estamos perto de alguém quando o lemos. difícil imaginar um blog bem sucedido que não traga absolutamente nada da vida de quem o escreve.

pausa. uma coisa interessante que pensei enquanto fumava um cigarro na rua é que o blog se constrói todo dia. isso é uma coisa muito dele. não é como um livro, pronto, pelo qual você vá ser julgado ou em cujas costas você possa repousar. ninguém volta e lê seus posts de um mês atrás. para todos os efeitos, eles não existem mais. ninguém avalia o conjunto da obra. a menos claro que você pense que o conjunto da obra está lá, na cabeça dos seus leitores. um blog tem que se defender, se provar todo dia. como as pessoas, que buscamos.

Minha janela


Rio da janela
Originally uploaded by Odyr.

quarta-feira, maio 10, 2006

decretei hoje o dia de fuck low carb. três ou quatro sites me confirmaram hoje o que vinha sentindo: um efeito colateral nada desprezível da dieta é o mau-hálito. segundo os gurus, é sinal de que a dieta está funcionando. sem carboidratos para queimar, seu corpo começa a queimar gorduras. mas francamente, quem quer viver com um mau hálito constante?

no final das contas, meu objetivo final não era perder peso, mas fazer uma experiência do pressuposto carboidratos-te-deixam-faminto. foram três semanas e foi interessante. sem comer massa, arroz, pão ou frutas. basicamente comi carnes, queijo e saladas.o resultado positivo é você ver que você pode pelo menos viver com menos carboidratos. (no dia em que estava deprimido e me acabei numa macarronada, senti um peso fenomenal) e que eles são uma opção ruim de snack, porque enfim, eles dão mais fome. mas eles vão voltar à dieta. benvindos.

segunda-feira, maio 08, 2006

dá tempo pra um adendo rápido, com o cérebro revitalizado pela nicotina: tommy lee jones faz um tommy lee jones competente como sempre (mas com um toque sutil de delicadeza no seu rancheiro ressecado pelo sol), mas barry pepper está sensacional representando a américa infantilizada, que não quer pagar pelo que faz. uma casca vazia, uma série de ilusões partidas (a mulher dele, morando num trailer agora, diz: - nós éramos muito populares na escola, sabe?) uma combinação de dureza com falta de solidez. muito, muito bem.
moro no brasil, não sei se moro bem ou moro mal, diz o outro, o jorge. moro em botafogo agora, no limite com flamengo e de frente para a praia. de botafogo, no caso, o que não é grande vantagem. é uma praia simbólica. ninguém entra nela. mas conta como vantagem, não?
de resto, muitos cinemas ao redor. chega a ser ridículo. e aproveitei. nesse final de semana vi caché, de haneken e três enterros de e com tommy lee jones. queria ter mais tempo para escrever longamente sobres os dois.

caché é difícil mas cheio de recompensas. sem música, sem facilidades, sem glamour. juliette binoche está gorda, descuidada, usa um vestido que parece um saco de batata. irritada, desconfiada, difícil. nada de musa aqui. daniel auteil mantém como pode as aparências de uma vida francesa se desfazendo em todos os fronts. racial, intelectual, amoroso.. é uma falência múltipla dos órgãos do país. e dói em todos, inclusive em nós.

the three burials of melquiades estrada tem roteiro do diretor de amores perros e direção competentíssima de tommy lee jones. unforgiving é a palavra que me ocorre. vingança, determinação, respeito. tommy lee jones faz um americano pagar amargamente pelo que faz. o pagamento é justo. e a impressão que se tem é que ele está arrastando toda a américa com ele pelo deserto. e, claro, ele está de partir o coração como o rancheiro monossilábico de valores intactos. perplexo. but unforgiving.

quarta-feira, maio 03, 2006

escrevo posts em minha cabeça, na rede, mas infelizmente até eles chegarem a essa rede aqui, se perdem. e aí o trabalho já me chama. pena que um notebook ainda esteja tão longe. mas há de chegar.

preciso muito de um estudio. não vejo a hora de novo de ter aquelas folhas brancas enormes me olhando, meus lápis insanamente apontados, lado a lado e o nanquim chinês repousando plácido sobre a mesa, como uma baleia negra.
e mundos por criar.


(lembro sempre de um filme b estranho onde alguém repetia um poema que acabava: milhas e milhas antes de dormir. na época, gravei da tv numa fita cassete e ficava ouvindo aquilo, com o estranhamento do eco da dublagem fantasmagórica: milhas e milhas antes de dormir)