quarta-feira, abril 26, 2006

"Hoje a situação está ruim até para a gente de bem. Imagine para as pessoas humildes." - Deputado Delegado Cavalcante (PSDB)


lendo essa frase arrepiante no blog de aninha, acabei comentando lá e repetindo uma coisa que tenho dito e que quero desenvolver aqui: como o rio tem essa particularidade de misturar todas as classes sociais, você convive com todas as partes da pirâmide. e só tem aumentado minha admiração por quem está na base.

não é demagogia. eu simplesmente não tinha pensado muito nisso antes. no sul, se você é classe média, basicamente você convive com a classe média. aqui, no mesmo ônibus ou supermercado ou praia ou calçada, está o cara que mora na rocinha, o médio-executivo e a madame. no caminho para a casa na montanha, onde estou cercado por pessoas mais próximas do topo da pirâmide do que da base, passo sempre pelo meio de uns bairros de subúrbio. e a diferença é flagrante: as pessoas estão na rua, conversando, rindo, convivendo de fato. no condomínio, se alguém te der oi, você se espanta. se você bater na porta dela pedindo o mínimo favor, ela vai te olhar com um horror indisfarçável e um desprezo profundo: como é que você quebrou o códido não-escrito da inviolabilidade do lar?

na rua, no mercado, você vê: as pessoas mais simples (pra usar esse eufemismo horrível) são simpáticas com todo mundo. sorriem, brincam. estão indo para trabalhos duros e casas mínimas, mas estão de bem com a vida. as "de bem" só tem simpatia pelo seu mundinho. (se simpatia é a palavra certa. é mais um interesse reprodutivo darwiniano.) e as mulheres são as piores. essas pessoas que você vê escancarando os dentes nas páginas de caras andam pela cidade com uma máscara dolorosa, um rictus no rosto, uma espécie de contração ao redor dos lábios. não é só uma ausência de sorriso, mas é realmente uma dureza no rosto apavorante.

não vou dizer que eu queria morar na favela, mas realmente queria morar num lugar onde haja um pouco disso: alegria, confraternização, solidariedade, empatia, convívio. deus me livre de nossas elites. brrrr.

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