mas eu tenho, de fato, tanto mais a dizer sobre wolfe. uma das coisas que faz a graça da série é como o tempo não passa.
claro, isso é um fator já anotado por vários críticos quanto a nossa relação com tiras de jornal, por exemplo. hagar vai ter sempre a mesma barriga e a mesma idade. charlie brown vai ser sempre charlie brown. se bem que, numa nota paralela, existem aqueles dois textos maravilhosos, que não conheço o autor (alguém conhece?), que são as cartas de calvin, adulto e junkie, para susie. de partir o coração. but I digress.
como disse, o primeiro livro sai em 34. o último em 75. o mundo virou de cabeça pra baixo duas vezes pelo menos nesse tempo. mas nada mudou na mansão de wolfe. fritz o cozinheiro, continua lá, preparando omeletes de cogumelo perfeitas para o café da manhã; archie continua atrás das mulheres mas de nenhuma em particular; wolfe, well, continua wolfe.
mas há sutilezas. o último que li era dos anos 60. e nero wolfe resove um caso ligado aos direitos civis e problemas raciais americanos. são pequenas, minúsculas inclusões do mundo exterior nesse microcosmos imutável e reconfortante.
chega-se a um ponto e é surreal, que você (bom, eu) sabe os horários de wolfe de cor.
interessados? não é uma vida ruim. wolfe acorda às 8. café no quarto com uma cópia do times. (archie come na cozinha, com a outra cópia). às 9, chova, faça sol, neve ou revolução, ele está com as orquídeas e com theodore, o jardineiro, no andar de cima da casa. até as 11. incomunicável. a ser interrompido em casos absolutamente extremos.
das 11 ao meio dia ele olha o correio. discute algum assunto necessário com archie. olhando para o relógio. a menos que a casa tenha sido invadida por índios selvagens (não aconteceu ainda) fritz vai ter o almoço pronto ao meio dia. talvez seja supérfluo dizer que fritz é um artista. os cardápios me trazem praticamente lágrimas. negócios são expressamente proibidos durante as refeições. wolfe discute livros, ciência, automação (ele odeia praticamente quase todas as máquinas) and so on.
café é servido no escritório. o cérebro está disponível das 2 às 4. mais duas horas com as orquídeas. de volta ás 6. depois disso wolfe não tem um horário muito rígido. mas se pudesse escolher ele passaria todo o tempo lendo. trabalho é um mal necessário, que lhe impede de ler e deve ser disposto tão rápido quanto possível.
preciso dizer o quanto eu invejo wolfe?
mas hey, ele é um gênio e eu não. :)
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