quinta-feira, junho 09, 2005

sempre procurando inimigos novos, minha coluna amanhã vai ser uma carta de amor aos vegetarianos.

o arroz integral é seu amigo (não meu)


Quando eu era lamentavelmente jovem, entediei minha família com uma tentativa de dieta macrobiótica, o que hoje me parece uma forma moderada de loucura, sendo um sistema que tem como objetivo viver feliz comendo só arroz integral. Depois fui um vegetariano inconstante e hoje sou um onívoro feliz. Sobre a macrobiótica, basta lembrar uma tirada ótima de Tom Zé: se você está doente, ela pode lhe deixar saudável. E vice-versa.

Mas como todo mundo, depois de um final de semana de excessos, parece razoável limpar um pouco o sistema. Fui a um vegetariano. Não vou nem entrar no fato deles já serem baratos o sufiente para não precisar ser a quilo, mas enfim.

Consegui passar pelas saladas. Afinal, sou amigo das folhas, com um pouco de azeite se está bem. Mas quando voltei para me encontrar com um prato quente, honestamente meus sentidos preliminares, visão e olfato, me avisaram o suficiente que o paladar não encontraria nada ali. Uma tristeza de se ver. Paguei minha salada e continuei meu almoço em outro lugar. Não foi a primeira vez.

Jeffrey Steingarten, que escreveu o sensacional O Homem que Comeu de Tudo, definiu bem esse drama: as pessoas esquecem que para fazer uma salada (e comida vegetariana em geral) se precisa mais arte. Não menos. Um peixe, por exemplo, se faz quase sozinho. Mas para transformar folhas e legumes em algo atraente um pouco de esforço se faz necessário. Imaginação. Alguma maldade. Mas há uma mortificação nos vegetarianos. Uma culpa cristã, uma condenação do prazer. Não basta ser saudável?

Uma dieta exclusiva de pasto é o suficiente para bovinos. Ou de carne crua para felinos. Animais não conhecem o tédio. Mas uma da coisas que nos faz humanos é nosso desejo de variedade. Uma certa perversão dos alimentos. A busca por especiarias fez os homens atravessarem oceanos desconhecidos.

São característica compartilhadas por vegetarianos em várias cidades, mas aqui, o Tao oferece um cenário mais simpático. Ao chegar, a visão de um cardápio na mesa já oferece consolo. É sempre um sinal de civilização, de que escolhas lhe são oferecidas.

Possivelmente condenado pelo cânone, por oferecer peixe e frango, o lugar comete outros pecados, como ostentar temperos na mesa. Se pode fazer uma refeição leve, barata e saborosa.
Há vida além do arroz integral.

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