terça-feira, dezembro 02, 2003

divisor de águas

esse site resistiu a vários relacionamentos, então daqui pra cima você lê o que acontece agora. em mais um que começa. abaixo, o passado distante, tão distante quanto alguns meses podem ser em se tratando das coisas do coração.

sábado, novembro 15, 2003

se alguém ainda passa por aqui ocasionalmente e se revolta com os mesmos posts empoeirando, uma satisfação rápida: entrei em uma fase mono. significa que só tenho dois temas na cabeça. fran (essa pelo corpo todo, aliás) e comics. e juro que é só, people. não tenho nem lido muito. quando não estou trabalhando (automatismos), estou desenhando furiosamente, para não pensar tanto no amor ausente.
são muitas estórias novas e lamento não ilustrar aqui com nada, mas estou sem teto virtual nesse momento. em algum ponto vou ter a paciência de novo de reconstruir meu site. os poucos e bons que passam por aqui vão receber convites para visitar, certamente. para que se tenha idéia: a estória do cortazar está pronta (falta colorir, comecei uma nova sobre camus, fazemos moonlight, fran e eu, com law começamos uma novíssima, para o mercado americano (aham, sinta a pretensão)... enfim. algum dia essas gavetas vão transbordar. vocês estarão convidados. nesse meio tempo não estranhem o silêncio. abraços. O.

sexta-feira, novembro 07, 2003

moonlight é o primeiro filho de meu encontro com phrann. se passa na terra, na lua, tem são jorge, belas enigmáticas e o texto possuído de minha musa germânica. promessas, eu sei, mas um dia eu ponho online.
gatos tem um amor caprichoso, que é preciso merecer. klimt veio da rua e agora habita nossa pequena república. mas vir da rua não o faz menos nobre ou exigente. é um lord, que dedica as tardes a dormir no sofá do estúdio, depois de estudar seu colo cuidadosamente e concluir que não é satisfatório. de noite ele some e pela manhã ele entra, com a mesma nonchalance de batman com seu mordomo. me sinto o alfred, abrindo a porta para o patrão misterioso. desejaria café, senhor?

segunda-feira, novembro 03, 2003

uma semana em zion. me and lili. phrann fran. hoje entro na matrix procurando flores para ela. minha musa germânica. come to me. ball for all, lili is here. uma pandorga.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Para os simpatizantes de novelas, para os que reclamam que nada acontece nesse blog, para decifrar as fábulas, para agradecer infinitamente ao dudu: eu e phrann. phrann e eu. coisas incríveis acontecem nesse mundo. ela veio, viu e venceu. das palavras insanas à presença, foi um caminho longo e brevíssimo. my soul is taken. feliz.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Missing mister misery

numa dessas coisas, tinha voltado a ouvir nos últimos dias a trilha de elliot smith para gênio indomável. sempre pulando as faixas para ouvir só aquela tapeçaria sonora tão sutil dele, aqueles vocais dobrados sussurrados, aquele lugar em que se podia morar, com sombra e um fiozinho de luz.

hoje leio que ele se foi com uma facada no peito. ontem, anteontem ou algo assim. quem se mata com uma facada no peito?

epitáfio clássico do pasquim: os melhores vão primeiro. ou:com tanto filho da puta pra ir...

lembrei da morte de genet, que me pegou igual. uma tristeza absurda, meio ridícula, meio adolescente. ana cristina pulando pela janela. misery.

quinta-feira, outubro 23, 2003

queria poder explicar mais. mas se faz tão cedo. oferendas do céu como piñatas. nunca desejei ser obscuro. mas são coisas mafiosas. proteções para nascentes. uma máfia de dois.

terça-feira, outubro 21, 2003

fábula

uno encontra um tesouro. uno se pergunta tanto. se merece, se tem onde guardá-lo, se. o céu confunde os pedestres oferecendo possibilidades, pensa ele. frente a uma epifania, frente ao espelho, frente ao furacão. ele sente uma possibilidade de alegria enorme. um medo proporcional. uno quer saber onde está, quem é, para que lado vai. o tabuleiro é vastíssimo.

sábado, outubro 18, 2003

a manhã me encontra um tanto desolado. vítor canta tambong, dança catala e dança trégua. são dias. explicações, explicações, sempre como facas pelos cantos, dizia james.

terça-feira, outubro 14, 2003

tenho projetos, como todo mundo. um, que vai indignar loulou, sempre tão ciumenta e senhora de si, é uma estória em quadrinhos sobre cortazar. blasfêmia, blasfêmia, encaixotar em janelinhas o velho julio.

bem, danem-se. o herói é meu também. e é, antes de mais nada a labour of love. em breve, quem sabe, publico trechos aqui e acalmo os cortazarianos mais ferozes.

o outro, decidido ontem é fazer coisas com phrann. nada do que dudu possa pensar, viu. respeito ao ex. quero desenhar coisas daquele barroco insano de lili Fran phrann. ainda não sei que forma vai ter. mas me anima enormemente. you just wait.

quinta-feira, outubro 09, 2003

*ainda sobre phrann, fuçando no site achei um comentário que podia ser uma carta de intenções dela:

o intento é andar no escuro tendo a língua por mãos.
phrann

deixa eu dizer o seguinte: existem usos e usos da linguagem. do mais pedestre e utilitário (como o jornalismo, sorry) à poesia, que é a linguagem brincando em estado puro, à beira do vulcão.

a maior parte de nós escreve prosa pedestre e quando pode dá uma lambida na linguagem para ver se ela parece melhor no espelho. porque ninguém aguenta viver no volume 9 todo o tempo. mas essa pessoa, phrann escreve no volume 9 o tempo todo. o blog dela é de um abuso da linguagem que me deixa pasmo. não há refresco aqui, não há retorno ao chão. tudo é linguagem. me confesso pasmado. grato a dudu por mais um link precioso. e evoé, phrann.

sexta-feira, outubro 03, 2003

acendo um cigarro em uma esquina de satolep e me sinto bem. por estar nesse exato momento aqui. você sabe, se você não consegue fazer isso onde você está agora, você não vai conseguir em berlim ou paris. não são platitudes, mas um fato. tente.

terça-feira, setembro 30, 2003

todos sofremos desse mal, em blogs - um dia sem novidades é um dia sem leitores. ou um leitor a menos por dia. é justo, justíssimo. é democracia digital. give me what I want or. mas nem sempre temos o que dar. tem dia que é de noite.
promessas

na televisãozinha que é a janela que esse blog é, parece que chove desde sempre e que nada acontece, mas não é assim. dias tem se passado e coisas tem acontecido. só não tenho contado. por isso estou na dívida. agora essas são coisas que não me vem, como diz o vítor. mas virão.

terça-feira, setembro 23, 2003

a cidade confirma sua lenda e chove por dias a fio. a mesma cortina pálida de água dia após dia. os papéis parecem que vão se desfazer, o quarto cheira a mofo, os dias se parecem.

quinta-feira, setembro 18, 2003

camus no brasil. estou lendo os diários de viagem dele. ele veio como uma celebridade, vagou por aqui febril e oprimido pela atenção. (em outro ocasião, ele disse - nós, escritores do seculo XX, nunca mais vamos estar sozinhos).

do brasil dos anos 50 que viu, disse, entre outras coisas, que a civilização aqui era como uma fina chapa de metal sobre uma fonte de energias primitivas e vitais.

disse também que esse edifício um dia se romperia e veríamos a população nativa tomar posse triunfante. disso já duvido um pouco. nesse meio tempo, parece que a casca de civilização se solidificou, matando um tanto o espírito brasileiro. o que parece a vocês?

terça-feira, setembro 16, 2003

tenho um cérebro que não foi feito para a ciência, mas que pode ser incrivelmente excitado por ela. ontem me pus a ler uma scientific american e dio, quem disse que eu conseguia parar. ou dormir. quatro da manhã e minha mente estava febril com a possibilidade do universo ser um holograma, com os gases que faziam a pitonisa de delfos profetizar, com a origem do homem ser africana ou não, com o pêndulo de foucault...

leitura contra-indicada para mentes excessivamente imaginativas.

segunda-feira, setembro 15, 2003

a segunda feira é por natureza, um dia de recomeços. e de se coletar os cacos do final de semana. resumos. então, com aquela voz da sony - nos capítulos anteriores de...

vimos nei lisboa ao vivo, viu jorge, sem querer causar nada parecido com inveja. o pequeno gnomo usava aquele gorrinho verde e camisa vermelha. quase o uniforme dos duendes. cantou muito e bem, como sempre. meu entusiasmo, somehow, falhou em aparecer, mas não se podia apontar uma falha ali. coisas da familiaridade excessiva, talvez. fiquei bem mais entusiasmado com a parrillada que veio depois. as alegrias da carne, parece, não morrem.

vimos (onde escrevo nós, leia-se eu e mari) o terceiro Hannibal, que vem a ser o primeiro refilmado e achei tristíssimo. curioso, uh. esperava me agarrar na cadeira, mas não sei se pela presença de ralph fiennes, o filme me pareceu muito mais triste que assustador. uno siente uma dó do assassino... ou eu estou ficando insuportavelmente soft, mas juro que fiquei com um certo travo na garganta.

após nossos intervalos comerciais, voltamos com essa retrospectiva. stay tuned.

segunda-feira, setembro 08, 2003

eu não mereço, mas jorge escreveu um texto lindo sobre mim. fiquei tocado, de verdade. ficaria embaraçado de fazer o relato de volta, mas um dia faço. porque ele sim merece.
ah, e como poderia esquecer de comentar? Vi punch drunk love esse final de semana, embriagado de amor na versão brasileira e é o filme mais bizarro, lindo, assustador, estupefaciente.... podia continuar com adjetivos sem parar. dudu pergunta o que viram em adam sandler e eu acho que ele se saiu lindamente nesse filme. você quer abraçar o fulano, confortá-lo como emily watson faz. ela, com aquela grande cara inglesa redonda tem um significado tão tocante - você entende sem que adam explique - quando ele a abraça, ele sabe que chegou em casa. ela tem aquele abraço que significa um mundo, que significa que aquele ser humano achou um lar naqueles braços. com toda a sabedoria das mulheres que entendem que homens são crianças rodando pelo mundo.

confesso que saí trôpego do cinema. de fato, tive que sentar nos degraus de uma loja vazia no domingo e fumar um cigarro meio perplexo, sem saber pra onde ir. mas pode ser uma coisa minha.
pequenos crimes

então livros de novo. ainda que eles não sejam toda a vida e alguns poderiam dizer que eles são o contrário da vida. mas eles são um pedacinho dela. ou uma chance de viver outras vidas. o final de semana me arrastou a lugares barulhentos e infernais, mas no domingo desliguei o telefone e reli as estórias de tom ripley, reunidas num volume. a expressão prazer culpado se encaixa tão bem aqui, porque tom é tão amoral que uno se siente cúmplice dele ouvindo suas estórias e não consegue deixar de imaginar pequenos crimes. parece tão fácil para ele. ele ultrapassa delicadamente os limites da lei. não mais do que o necessário, não sem um certo senso de estilo, entre um bom vinho e uma tarde agradável em sua maison na frança. às vezes simplesmente para quebrar o tédio. e a realidade parece alterada. você sai dali sorrindo e com idéias pérfidas na cabeça.

quinta-feira, setembro 04, 2003

camus e a américa

as alegrias do sebo ideal. adão é o dono. lá se chega, se pode fumar, o dono conhece tudo e é difícil não encontrar dois diletantes discutindo o sentido da existência. ele tinha recebido três mil volumes, que misteriosamente acham seu lugar nas mesmas prateleiras cheias. saí de lá com dois camus, um autobiográfico e o diário de viagens dele. na américa, ele diz que sente o coração tranquilo e seco, como quando frente a um espetáculo que não o emociona. um americano diz a ele - esse é um país onde os relacionamentos são fáceis, porque são rasos. é um país que não conhece o amor.

segunda-feira, setembro 01, 2003

o final de semana foi luminoso. passado todo em torno da mesa de desenho. não há satisfação maior do que ver páginas prontas ao final de um dia de trabalho. depois, relendo patricia highsmith, um personagem citava um pintor que dizia - que não há nada tão depressivo para o artist do que o self, para o qual ele se via retornado depois de um período de trabalho, ou em férias, que nunca deviam ser tiradas . o negrito é por minha conta. sei do que ele fala. sempre me senti profundamente desorientado em minhas tentativas de estar em férias. simplesmente não fazia nenhum sentido pra mim. como já disse, o mundo faz sentido quando se está tentando criar um novo.

sexta-feira, agosto 29, 2003

as cidades

melissa largou a cidade que amava e que a enlouquecia. law vive em uma cidade cyber que sonhou. calvino fala das cidades invisíveis, que se confundem com as de borges. cortazar falava de uma cidade que vários amigos compartilhavam em sonhos. eu idealizo a minha cidade dos sonhos ao mesmo tempo caminhando por ela. eu digo que cada um tem a paris que merece. loulou diz que merece a verdadeira paris e não duvido. james provoca os cubanos em miami, marcos está feliz em floripa, os amigos estão espalhados pelo mundo e cada um toma café na sua cidade. uno se pone loco pensando nessas coisas.

quarta-feira, agosto 27, 2003

os americanos tem nomes para tudo. faz parte da natureza deles, classificar as coisas e pessoas de forma clara e inequívoca. fulano é um loser ou um overachiever ou um freak ou qualquer outra coisa que levaríamos linhas e linhas descrevendo. meu blog tem lurkers.
o lurker é aquele cara que só espia e não se revela. um pouco como o stalker, que é o que segue pessoas. mas no caso, são formas afetuosas de lurkers. volta e meia descubro que sim, meia dúzia de pessoas passam por aqui e lêem minhas elucubrações e saem sem dizer nada. dessa vez foi lu, que de porto alegre espia minhas atribulações, minha novela mexicana muda.
quando você traz um lurker para a luz, o que ele se torna?

segunda-feira, agosto 25, 2003

quando a realidade comprime e me expreme entre acontecimentos, o blog fica esparso. não me interessa de fato fazer uma lista de lavanderia aqui e os insights ficam raros. sou um animal contemplativo. deve ser por isso que voltei para o passado e para um cidade que ainda tem tempo, pátios, espaços. nos últimos dias, o trabalho tem me roubado essa paz. mas ela volta.

quinta-feira, agosto 21, 2003

Salvo desse abismo de depressão química pelo trabalho. Não aquela coisa evangélica, please. Mas de sentar e produzir. Em nenhum outro momento na terra me sinto tão no lugar certo, fazendo a coisa certa. Não há desconforto, inadequação, dúvidas, arestas. O mundo faz sentido. Até porque se está criando um novo. Do zero.

sexta-feira, agosto 15, 2003

so fucking sad that is really ridiculous.
lembro sempre de uma estória de um quadrinista espanhol, que narrava as desventuras dele com os quadrinhos e no final, em uma cena melancólica, enchia um quadrinho com os nomes dos autores amados todos e dizia porque habeis entrado em mi vida sin pedir permiso?
a realidade acelera, se fragmenta e se divide em pedacinhos menores que não necessariamente se entendem entre si, e giram, com um lado fosco e ou outro brilhante e vá o ser humano tentar fazer algum sentido disso tudo. sinto uma dificuldade enorme de conciliar aspectos vários de minha vida e os quadrinhos em particular são como uma maldição.

segunda-feira, agosto 11, 2003

e preciso agradecer ao nasi também pelo link do site do grant morrisson. mas ao mesmo tempo... esse pedaço de e-mail mandado a um amigo igualmente sofredor-quadrinista explica a situação melhor:

o site do grant morrisson. é sensaaacional, mas ao mesmo tempo me desespera. ver ele vivendo como um bólido pop rock'nroll arrogante e vivendo de quadrinhos...posso fingir que não, mas dio, tudo que queria era viver devotado aos quadrinhos. fico botando eles de lado para não sofrer, mas arranco os cabelos que não tenho. a velha estória de que a musa é ciumenta, não suporta ser deixada em segundo plano...segunda-feira e venho trabalhar e não tenho nada a ver com essa gente...queria estar em um bunker, ouvindo música altíssimo e fazendo a porra dos melhores quadrinhos da porra do mundo, se é que você me entende. e é claro que você me entende. what gonna takes to us to do it? rob a bank? starve to death? JUST PLAIN FUCKING BALLS ????
que medo. dudu nasi diz que sou talentoso quadrinista. como sou do tipo que esconde e se autosabota ao máximo...

mas vá lá, se algum incauto chegou aqui por conta do amigo dudu, tem a chance de ver se ele tem razão ou não. quase tudo cometido por mim está aqui.

de minha parte, a família agradece, penhorada.

quinta-feira, agosto 07, 2003

hipóteses:

- eu tenho leitores extremamente silenciosos.

- eu não tenho leitores.

- eles não acham que nada aqui mereça comentário.

estou torcendo pela hipótese 1.
as negociações sutis que acontecem por e-mail. well, elas acontecem também de serem sutis demais para algumas pessoas. aliás, nada é mais triste do que se esmerar para compor o e-mail perfeito e descobrir que passou por cima da cabeça da destinatária. para quem ama as palavras é sempre uma desilusão. num caso mais extremo, philiph roth conta da bela selvagem que aparece em sua vida e representa quase uma vingança dele contra o mundo, o garoto judeu infeliz enfim com uma deusa enorme ao seu lado - mas ela escreve bilhetes com erros brutais de ortografia. hmmm.

quarta-feira, agosto 06, 2003

o final de semana foi intenso em álcool e contato com essa raça desesperada, os seres humanos. festas bares ruas e casas. todas as instâncias. fiz bobagem, me encantei, me choquei com o estado da canalhice masculina, fui canalha, fui naive, dancei um pouco e bebi muito. a semana traz a experiência de um reencontro sóbrio. não foi tão mal.

segunda-feira, agosto 04, 2003

mas nada que um final de semana wild não resolva. detalhes em um futuro próximo, maybe.

quinta-feira, julho 31, 2003

o espírito quebrado por alguns dias. aquele negócio que pau e pedras podem quebrar mas palavras não...não é fato, friends. palavras sim.

quinta-feira, julho 17, 2003

a bela é elusiva, esguia e palida. provavelmente sorri, como escreve o autor de nero wolfe. nos olha da distancia, de seu mundo germanico, do alto dos seus tantos metros (sempre caio pelas altas) e nos mostra sem mostrar sua impossibilidade. sorrindo. possivelmente.

quarta-feira, julho 16, 2003

como nunca é tarde para ter herois novos, tenho um - nero wolfe. se ele ja estava na sua lista, você pode revirar os olhos e pular esse post, mas como disse, nunca é tarde.

nero é um gourmand, um glutao que se dedica a cerveja e a culinaria calorica, mas fina, digamos assim. ele ama suas orquideas, despreza quase todo mundo e nunca sai de casa. e ainda assim, ele resolve crimes. com a ajuda de um homem-das-ruas, seu funcionario pessoal, que faz todo o serviço pesado. mas o humor... os capitulos curtissimos... é impagavel, friends. e o melhor de tudo: sao setenta e sete livros. ahhhhhh. alegria para uma vida inteira.

segunda-feira, julho 14, 2003

post scriptum para a nota abaixo - sim, me faz mal pensar sobre essas coisas. que tem a atracao de um acidente na estrada, que captura nossos olhos e nossa morbidez. a vida na america com frequencia me faz pensar na existencia do mal, essa entidade abstrata, vagando por la, como uma criatura concreta e faminta.

claro que e um raciocinio perigoso, imaginar que nos somos os bons selvagens, etc e clamar pela vida natural, ou como-ela-devia-ser...mas, really. americans...
david bowie diagnosticou em uma musica: Im afraid of americans. E boy, ele tem razao. a maneira como pequenas insanidades crescem e sao cultivadas como feridas estimadas é, well, assustador. a ultima que cruzou meu campo de visao e um comportamento que aparentemente esta crescendo por la, que sao os wannabes amputees. sim, pessoas que por uma fantasia pessoal, sexual ou whathever, aspiram a ou conseguem de fato, ser amputados. perder uma perna ou um braco ou dois, para ser como eles sonharam. e medicos estao contentes em executar o procedimento. tudo pelo paciente. um documentario esta a caminho, um grupo de discussao tem mais de 3.000 wannabes inscritos...oh admiravel mundo novo. algo em mim treme lendo essas coisas.

sexta-feira, julho 11, 2003

para quem liga para essas, aham, banalidades, achei o lugar quieto para o almoço dos sonhos. o bistro da baronesa e o restaurante de uma dessas que foram, viram e voltaram, com seus diplomas e gostos da velha europa. o preco e muito honesto, a comida e discreta e reconfortante, o salao dos fumantes tem poltronas maravilhosas, um jazz toca no fundo... o ser humano volta ao mundo se sentindo melhor.

quinta-feira, julho 03, 2003

o eterno retorno
fui ver hulk ontem e nao e que o tema do filme (em minha mente distorcida, pelo menos) e o dominio feminino? pois que o gigante, a besta fera, o superego masculino que destroi, e vencido pela bella, pela cuidadosamente escolhida jennifer connely. ela, com sua beleza assexuada, de rosto que flutua sobre corpo nenhum, domina a besta com o poder ancestral feminino. ele literalmente cai a seus pes. ang lee sabe das coisas.

terça-feira, julho 01, 2003

abre o sol, meu som velhonovo enfim funciona, uma mitologia da cidade se desenha em minha mente (e no papel)...dia desses que tudo funciona. voce tem que prestar atencao e ser grato, you know. ah, e encontrei o vinil da trilha sonora de twin peaks. para ouvir com lagrimas nos olhos.

sexta-feira, junho 27, 2003

Lu se me ler vai entender, que nao lembrava a complexidade que e diagramar um jornal. a direcao de arte para revistas te deixa preguicoso, e a verdade. depois de uns dias em minha ilustre posicao de consultor do jornal, me passaram umas paginas coloridas para fazer e me pus a, tranquilo, quase olimpico e tomei um cacete fenomenal das pagininhas. dio. muitas colunas, muitas materias. renovou meu respeito pelos que batalham em jornais. brava luta.

quinta-feira, junho 26, 2003

deja vu no trabalho - de novo em uma redacao de jornal, de novo atraido por uma loira altissima. a vida se repete. mas dessa vez a loira e melhor. leia-se com um sorriso no rosto.
dois livros comprados no meu sebo favorito: manana digo basta, de silvina bullrich e herzog, do adoravel saul bellow.(me acostumei rapidamente a escrever sem acentos aqui,depois que ele sumiram. juro que me acostumo a tudo.)

os dois apontam para a desintegracao, tema perigoso pra mim, ja que me fascina um tanto. no argentino, uma mulher passa longas ferias em uma praia deserta no uruguai e vai se desprendendo de sua vida anterior. no de bellow, o protagonista esta de fato se desintegrando. cansado por demais de divorcios, problemas, cansado da vida. um sentimento que entendo. nao ocorre a voces que em algum momento voces se diriam - e isso, cansei, da muito trabalho se manter, se sustentar, procurar por sexo, pagar as contas, tomar banho?

a mim certamente ocorre e temo e tambem antecipo o momento. com frequencia olho meus objetos e eles me pesam tanto. o fardo de ter uma casa, livros, roupas, identidade. a mitologia franciscana me interessa quase nada (menos ainda andar descalzo) mas a ideia de nao ter nada...de se perder em um pais estranho onde nadie te conoce...
voces nao querem saber, mas a umidade (nada relativa) do ar nessa cidade varia, no inverno, entre 90 a 100 por cento. literalmente, folks, nao e uma figura de linguagem. se voces estao imaginando como e, well, e como andar sobre agua, respirar agua, dormir envolto em um lencol de agua. tudo apodrece. forget about the lovely cliches of gray weather.

segunda-feira, junho 23, 2003

tomb raider

Coisas do entusiasmo. Aventuras domésticas. Minha casa tem um porao que é como um mundo, camadas de vidas dos proprietarios anteriores, soterradas em po. Ja resgatei de tudo por la - ventilador, luminaria, mesa, o que se possa imaginar. E na quinta, buscando uma antena para a tv, em um entusiasmo juvenil de tomb raider, acertei minha cabeça com todo entusiasmo em uma viga perversamente baixa. cena classica: você olha sua mao e é so sangue. jorrando. Alvoroço entre os parentes, roupas manchadas de sangue e um passeio ao hospital. o cérebro continua funcionando,in case you´re wondering, so passei um dia enfaixado como um paja. Tudo isso por uma antena de tv. Piada familiar do momento e moral da estoria: sempre achei que tv fazia mal à cabeça.

quarta-feira, junho 18, 2003

A casa é invisivel, como pude esquecer de comentar isso. me gusta tanto. da rua não se vê nada. ela é longa e se estende suavemente por baixo de outra. uma casa secreta. ontem percorri longos corredores comprando gadgets e utensilios diversos. você precisa inventar uma casa, really.

segunda-feira, junho 16, 2003

mirando longamente o patio. juro que por meia hora foi so que fiz. houve um tempo em que o patio era a alma da casa, me dizia andrea. onde ficava o poço e os suprimentos. e um sapo.

basicamente livros espalhados pela casa, uma cama no quarto do andar de cima, um fogao deliciosamente velho, uma geladeira idem e é isso. so peças e mais peças de espaço. nao me canso de percorrer, de demarcar, de visualizar. ha um vao misterioso embaixo da escada, um porao abissal que é um mundo de objetos e dust, um elevador de comida desativado... a casa é cheia de sinais mudos, de coisas que nao aconteceram ou que deixaram de. o domingo foi passado assim, andando, vendo, considerando.

terça-feira, junho 10, 2003

Ha. Vitória dupla. Hoje ela me recebeu com "O que vai ser, amigão?" (sentiu o tom um-dos-caras?) e completou: "Um Holywood vermelho?" Yep. E no entanto chove torrencialmente em Pelotas. Nada é perfeito, uh. Digito com meus tênis molhados. Lamentável.

segunda-feira, junho 09, 2003

Ainda a anti-mona-lisa

Outra explicação: ela tem consciência de classe. Ou algo assim. Ela vê o mundo com um balcão no meio. Quem está do outro lado está do outro lado. Eu a vi com os rapazes do posto:rindo, fazendo piadas. Ela é one of the guys, you know? No momento que volta para o balcão, ela fecha a cara. Cortesia profissional, mínima. So, I´m the enemy.

sexta-feira, junho 06, 2003

Noticias de casa

E Oh finds a home. Uma casa no horizonte. Absurdamente grande, como podem ser as casas daqui. Tres quartos, patio, uma garagem estudio em que uno pode se perder...por metade do que pagava por um apartamento em Porto Alegre. Ele sorri a toa imaginando desenhos para a casa. Uma cesta de basquete no estudio? Um quarto so para os livros? Espaco para andar remoendo pelas noites. Ah, e nenhum vizinho, oh dio. Oh compra discos e arquiteta montar um daqueles sons antigos, com prato e caixas enormes. Os mates nesse patio prometem. A vida sorri.

segunda-feira, junho 02, 2003

A Anti-Mona-Lisa

Intrigado com a garota do posto. Um mês nessa cidade, três ou quatro vezes por semana estou lá comprando cigarros e não consigo nunca que ela me chame de outra coisa além de senhor. O mesmo olhar fechado de desconhecimento. Não consigo evoluir para um oi amigável. Não consigo que ela lembre qual é meu cigarro.

Ela tem aquele rosto vagamente masculino que me encanta, as maçãs do rosto proeminentes, aquele ar de quem está no mundo, sem dúvidas. E no entanto. É como se ela sofresse do mal do personagem de Amnésia - a cada dia sou um novo estranho querendo sabe-se lá o quê. Um sorriso parece um ideal inalcançável.

quinta-feira, maio 29, 2003

Yet another girl´s journal make the cut to the Blogger´s Top List. With some pictures, of course.How come all blogger girls are so cute? Somethings strange in that. They´re all so sharp and sensitive and special and overachievers and lived in so many places... call me suspicious, but somethings strikes me as odd in this deal. Maybe its a conspiracy. Some twisted mind created this image, of the perfect girlfriend and manufactures these fake diaries. Now, hey, that´s a project.

quarta-feira, maio 28, 2003

Nessa situação rara que é ser um adulto de volta à casa dos pais. Que se comportam como santos e no entanto. Ontem o frio desafiava o bom senso do peregrino em percorrer as ruas, mas me vi lo mismo andando pelas calles pelotenses. Ao fim me sentei em um bar repleto de estudantes e entusiasmos, que tomavam cerveja como se fosse verão em Copacabana. Eu tomei vinho e fumei até me sentir humano de novo e aquecido e voltar à casa.
Agora mesmo se aproximam as seis horas e as mãos já se põem duras demais para digitar. Coisas de viver nesse lugar.

terça-feira, maio 27, 2003

A ausência aumenta, amplia, estiliza. Quando ainda estava expatriado de Pelotas fiz uma estória em quadrinhos sobre o legendário Grande Hotel, templo de fantasmas e ambições literárias. Tinha algo como um slogan ou subtítulo: cada um tem a Paris que merece.
Me vêm isso à cabeça agora, lendo o relato de um encontro de amigos na verdadeira Europa, a que fica do lado de lá do oceano. Amigos em Barcelona encontram a amiga que estava em Londres. Bebem juntos e eu aqui. Como comentava com Loulou, a cigana espanhola, me sinto como Traveler, o personagem de Rayuela que achava seu nome uma piada cruel, porque nunca tinha saído dos pagos. Não que não ame minha Europa particular aqui, essa cidade que nasceu da carne seca e se reinventou como uma pequena Paris. Mas Loulou mesma me dizia que Paris... well...

sexta-feira, maio 16, 2003

satolep revisitada

de volta à cidade da névoa, dos doces sutis, dos nobres decadentes e de uma forma de bichogrilismo resistente ao tempo, que ronda pelas esquinas. quando você menos espera, algum amigo de dez anos atrás dobra a esquina e reaparece com a mesma cara (e roupa) de dez anos atrás. o que pode ser confortante e preocupante ao mesmo tempo.

mas os silêncios são outros, o céu é mais largo, os mates duram mais. os livros se deixam ler de outra forma, o branco da página não parece o mesmo, há como que uma função sharpen no mundo. você está em outro lugar, isso é claro. se come muita carne, o pão é inacreditável, se sai muito tarde e as ruas te confortam um tanto quando você volta para casa. não é pouco.