Outra orelha de minha culpa, essa para o livro de André Dahmer para a Desiderata, em breve nas melhores livrarias, etc.
Incrível como eu demorei para entender o Dahmer. Lembro de Melissa e Gabi me mostrando coisas dele anos atrás e eu não percebia. Lento, eu.
Um humorista que não ri
Buster Keaton foi imortalizado como o comediante que não ria. Dahmer também não ri. Pessoalmente, ele é sério como um médico que vem nos dar más notícias. Seus temas também não são engraçados. Genocídio, miséria, abuso, álcool, o desespero da condição humana. Porque rimos então ao lê-lo? Porque milhares de internautas voltam todos os dias ao site dos Malvados, em busca de mais? Porque é mais crocante ou porque vende mais?
A resposta, como costuma acontecer, vem dos mestres. Millôr, neurocirurgião da graça, escreveu O Decálogo do Verdadeiro Humorista. Está lá, no item I: O humorista deve ter pudor de fazer graça. Ou no III: Para escrever, o humorista deve escolher sempre o assunto mais sério, mais triste, mais chato ou mais trágico. Só um falso humorista escreve sobre assuntos humorísticos. E assim por diante. Se esse fosse um teste da revista Nova, Dahmer teria passado com 10.
Assim como Keaton, que com seu humor físico e sua fachada esculpida de seriedade fazia a platéia rir dos absurdos e injustiças da vida moderna, Dahmer, com sua moralidade indignada, nos faz rir de nossa preguiça, vaidade, estupidez e todos outros pecados que estão no catálogo da raça. E dessa vez, é nossa cara que está lá. Os malvados, com sua aparência enigmática de flores perversas, eram uma máscara que podíamos vestir ou não. Nesse livro, eles tem cara. A minha, a sua, a de todos nós. No livro negro de Dahmer, somos todos malvados. Só nos resta rir.
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2 comentários:
você sabe como eu gosto desse texto. mas eu já enjoei. você nunca mais vai escrever nada aqui?
hein?hein?hein?
Ah, as cobranças de um casamento sueco...
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