fernando pessoa dizia que se deve escrever o poema a frio, longe da emoção, nunca dentro dela. hoje me ocorreu pensar que a crítica de cinema devia ter o mesmo aproach. ou dizendo de outra forma: escrever sobre os filmes que ficam.
com mais ou menos noventa por cento dos filmes, ao cruzar a porta do cinema eles já estão metade esquecidos e até o fim da pizza o que fica é uma sensação agradável e vaga, de ter andado na montanha russa ou no trem fantasma. como um sonho, que se esfarrapa ao acordar. aliás, sonho é uma das metáforas mais recorrentes para o cinema. e assim como filmes, poucos sonhos ficam.
já faz mais de uma semana que assisti sexy beast e o filme continua me fazendo companhia. as cenas se refazem e há o desejo de voltar a habitar aquele espaço, o que é outra característica de um grande filme: um grande filme é um lugar, com suas regras próprias, um ambiente, um clima, uma espaço nque pode ser revisitado.
gal é um gangster inglês retirado dos negócios, vivendo na na ensolarada espanha com sua amada deedee quando a merda atinge o ventilador. business calls e o homem que traz a mensagem é business em pessoa. ben kingsley é o chefe que vem buscá-lo para um trabalho e não aceita um não como resposta. nunca um psicopata foi tão odioso, nunca tanta ameaça esteve contida em tãos poucos gestos, na simples presença de um ser. don, o personagem de ben kingsley tem a capacidade de estragar o dia, a semana, o mês, com sua simples presença. ele é o mal personificado ou talvez simplesmenten a encarnação do ódio.
esse foi o primeiro filme de jonathan glazer, que depois fez o criticado reencarnação, com nicole kidman, que agora quero muito ver. a técnica e a visão dele são muito impressionantes. e o filme é um mundo muito bruto, vivo e quente, que você quer voltar e experimentar de novo. um diamante cheio de arestas com uma história de amor escondida nele, em meio a um festival de ódio.
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