segunda-feira, outubro 31, 2005

a arte está em parecer que não há esforço, que os desenhos vieram sozinhos para a página, se arranjaram elegantemente e ficaram esperando as palavras ao seu redor. as cores sobre (ou sob) tudo são adoráveis e a história está cheia das pequenas mesquinharias do mundo literário. um folhetim chic. e é de graça. que mais você quer?
muitas coisas me espantam no mundo. de fato, uma das coisas que me fazem feliz é manter minha capacidade de me espantar com as coisas. um maravilhamento mantido da infância. (que é um dos motivos que me faz odiar as formas mais comuns de infantilização: as pessoas escolhem os aspectos errados das crianças para manter. mas enfim.)

um das tantas coisas que me espanta é saber que j.d. salinger está vivo e pode estar batendo à máquina nesse momento em que escrevo no computador. que, em sua casa em cornish, ele esteja escrevendo, como tem estado há quarenta anos. sem deixar que uma linha dessas veja a luz do dia.

quase todos sabem a lenda: salinger não dá entrevistas, não posa para fotos e não publica. seu último livro é de 1963. joyce maynard, a jovem que viveu com ele, diz que ele nunca parou de escrever. ele tem agora 86 anos. dentro de alguns anos, seus filhos, ao abrir a velha casa, vão descobrir se há um cofre cheio de originais ou cinzas de uma fogueira com sua decisão final pelo silêncio.

sexta-feira, outubro 28, 2005

o mundo pela janela. nesse projeto muito singelo e muito lindo você pode ver o que pessoas vêem de suas janelas, de vários cantos do mundo. supostamente há também o som abiente, mas meu computador está sem som, então fiquei em silêncio. nenhuma do brasil ainda. alguém se habilita?

quarta-feira, outubro 26, 2005

Mais frases roubadas. essas de antônia pellegrino, que não conhecia e que escreve bastante bem. sobre a arte do pubcrawling.

"Cada vez mais acho que trabalho porque bebo. O trabalho é uma espécie de blindagem contra o sagrado ato de lamber a calçada nossa de cada dia. "

segunda-feira, outubro 24, 2005

ok, alguma ironia aqui e não é pouca. procurando imagens na internet para fazer uma ilustração sobre os alcoólatras anônimos (oh boy. as coisas que uno faz para ganhar a vida) encontrei a revista do alcoólatra moderno e que ousa dizer seu nome: the modern drunkard magazine. puro ouro. vale a pena começar com the zen of drinking alone.
Kathryn Bigelow é uma mulher (linda) que faz filmes de homem. Você sabe, com armas e coisas explodindo. Do tipo que gosto de ver num domingo à tarde, sob o efeito de substâncias recreativas. (Podia fazer um longo parêntese aqui. Cortazar dizia que as melhores mulheres eram as que tinham tido leituras masculinas na juventude. A idéia de ter um gosto pela aventura. Mas enfim.) Gosto em particular de Near dark, um filme pouco visto, que explora bem a metáfora erótica dos vampiros num cenário moderno.

O Peso da Água transferi para a sessão noturna. Nada explode aqui, a não ser a tensão sexual e interpessoal dos envolvidos. Um mundo de coisas acontece sem serem ditas. Sean Penn ainda está para fazer um filme ruim e Catherine McCormack tem vaguezas no olhar que me lembraram muito de uma Charlotte Rampling mais jovem.

Enfim. Antes que eu amontoe mais clichês de pseudo crítico - me gustó.

quinta-feira, outubro 20, 2005

um quase verão. sol, um ar que nos envolve a todos. parecemos todos mais perto uns dos outros. os sentidos mais ativos. uma (das muitas) coisas que amo nas mulheres é que elas cheiram melhor do que nós. não é uma equação tão simples como mulher + perfume. uma outra presença se cria.

frase pra mim já clássica de um filme: paul newman é um ex detetive que nunca se recuperou do seu passado com uma mulher (susan sarandon). ele diz que sabe da presença dela na cena do crime pelo perfume dela. ela argumenta que muitas mulheres usam aquele perfume. a resposta, um primor de cool: - smells different on you.
um tanto estupidamente, achei que podia usar a lua cheia para fazer uma conexão. concretizar uma conexão. acabei puxando o plug, numa noite cheia de desentendimentos, ciúme e álcool.
curiosamente, acordei muito aliviado no outro dia. maybe wiser.

terça-feira, outubro 18, 2005

36 é o nome de um filme policial francês sensacional, com daniel autueil e gerard depardieu. o equivalente francês daquele fogo contra fogo, com de niro e al pacino. mas com o charme do velho mundo. belo filme. e me fez desenhar muito. uma das graças do dvd é a pausa infinita. então, um set de desenhos no flickr dos dois narigudos adoráveis.

sexta-feira, outubro 14, 2005

sempre curioso ver como o mundo nos vê. nesse caso, um ser humano em particular.

caetano veloso por momus.

curioso ler os comentário também. por algum motivo, momus está convencido de que caetano está usando uma peruca na capa de araça azul. até vitor ramil entra na conversa.
essa é a primavera fajuta da delicadeza.

coisa de angélica, que ainda não deu as caras, mas continua com grandes frases.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Finalmente algo de que vale a pena falar.

Calvin and Hobbes' is probably one of the last great American comic strips.

é verdade. há uma grandeza ali, uma qualidade atemporal, um pincel exuberante e personagens que você pode amar pelo resto da sua vida. não há nada parecido nos jornais, não apareceu nada do mesmo valor no vácuo entre peanuts e calvin e com a miniaturização e mediocrização das tiras de jornal, talvez nunca mais apareça.

érico mandou o link dessa bela matéria do washington post.

érico, você sabe, possui em sua casa o recém lançado The Complete Calvin and Hobbes. você pode ver no site dele as fotos do livro. não, da caixa com três livros. com TODO o calvin.
você pode ficar, como eu, imaginando uma maneira de invadir sua casa à noite.
continuo sem nada para dizer aqui, então vou só comentar que achei um blog bacana e que o nome dele podia ser meu motto: booksmart, streetstupid.

quarta-feira, outubro 05, 2005

um passeio até a mesa de desenho ontem. relutante, cheio de dúvidas. teimando. muito aflito. fran disse bem: uma semana sem criar nada é uma semana perdida. e se não sou isso, em minha loucura pessoal não sou nada. ainda longe, muito longe de conseguir me atribuir valor sem o trabalho. it´s a long and winding road.

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angélica tem um blog muito lindo. tome um chá com ela no bar de um hotel de quinta.

segunda-feira, outubro 03, 2005

pubcrawling é um dos esportes ingleses por excelência que se espalhou pelo mundo, como o futebol. consiste basicamente sem sair bebendo pela noite, de pub em pub, ou no nosso caso de bar em bar até que uma das duas alternativas se apresente: acabem os bares para ir ou acabe sua capacidade de permanecer vertical. claro, existe também a terceira via, muito simpática que é encontrar alguém para ficar na horizontal.

como todo esporte, tem um custo no seu corpo. as zonas de impacto seriam o fígado, o cérebro e ocasionalmente ferimentos leves que você não sabe como aconteceram. e custos em geral: no seu bolso, no seu valor de mercado, etc, etc. como já foi debatido aqui nesse espaço público de auto-imolação, por todos esses motivos, ando tentando limitar minha prática desse esporte. mas um outro problema surge: sua vida fica inexoravelmente chata. de repente, sua situação de funcionário parece evidente: de casa para o trabalho, do trabalho pra casa. passagem pelo supermercado, ida ao cinema. sem surpresas. sem acontecimentos. você acorda sem ressaca, ainda com dinheiro no bolso, mas com a inequívoca sensação de que nada acontece em sua vida.

porque evidentemente há um componente de aventura em sair à noite. um grupo de adultos desconhecidos reunidos em lugares onde se vende droga legalizada, com a ocasional distração da música, mas o indisfarçável objetivo de contato. acontecimentos. química. una o elemento A com o elemento B (e às vezes o C também) e veja o que acontece. desastre, drama, comédia, porn, mas raramente o tédio. os impulsos primitivos estão em alta, há um desafio constante de superação. digamos que é difícil achar um substituto para isso. por mais que eu ame os livros, filmes, o desenho ou minha casa. todos parecem substitutos para a vida em si. e se a vida é a arte do encontro, como dizia o poeta, o que pode ser mais sintomático da vida do que essa busca pelo encontro?

cartas à redação.
esse longo, sensacional perfil de houellebecq visitando os estados unidos me lembrou as viagens de camus pelo mundo: o que se espera de um escritor francês, os clichês que ele perpetua e uma até uma certa semelhança física com o autor de a peste. abaixo, alguns houellebcquismos:

At a certain point,? he continued, ?I decided to write [about] the world as if nobody had ever written [about] the world. Which is in a sense true, because there were no computer programmers 30 years ago, and it changes the way you see the world. Joyce didn?t have a television, for example. He couldn?t speak of life with television.?

What remains with the reader is its portrayal of First World loneliness ? the loneliness of someone who, like the book?s narrator (also named Michel), has 128 television channels but no real friends. ?For the West, I do not feel hatred. At most I feel a great contempt,? he says near the end of the book. ?I know only that every single one of us reeks of selfishness, masochism, and death. We have created a system in which it has simply become impossible to live, and what?s more, we continue to export it.?
a folha publicou no seu Mais de domingo um abc de michel houellebecq, onde descobri que compartilhamos o mesmo aniversário. não me surpreendeu tanto assim. há uma visão de mundo compartilhada. no D de depressão, ele argumenta que é inevitável que existam cada vez mais pessoas deprimidas no mundo, já que nosso desejo é cada vez maior e a concorrência também. mas ao mesmo tempo, muito da lucidez e do humor do mundo vem dos deprimidos. com frequência, diz ele, os deprimidos são engraçados. não é uma idéia estranha pra mim. :)

já falei e digo de novo: partículas elementares, seu segundo livro, é um livro importante. fala de sexo e física quântica, do fracasso das utopias e mais um número de temas que nos perseguem pelas ruas dias após dia. ainda não me encontrei com um exemplar do primeiro romance e o terceiro acaba de sair na frança. resumindo, há o frisson de ver nascer uma voz única e significativa nesse mundo saturado.