a infância nunca vai realmente embora, mas quando ela nos visita como adultos, o resultado é curioso, porque estamos os dois, adulto e criança olhando para o mesmo objeto e as visões se sobrepôem, criando uma espécie de 3D.
revi ontem O Terror das Mulheres, com Jerry Lewis. não tenho tempo aqui nem disposição pra organizar os tantos pensamentos que me ocorrem. não são poucos.
por um lado, jerry lewis está gravado em sua memória infanto-juvenil. por outra há o adulto que olha aquilo e vê tanta coisa. vê o comediante incrível que ele era, o domínio corporal, a sinfonia de tombos, desastres... as cores, incríveis. eu não lembrava que ele dirigiu alguns de seus filmes. esse em particular é uma tour de force, com um cenário único, montado como uma casa de bonecas gigantesca ou como um cenário de ópera, a casa sem a quarta parede.
de um lado então se ri, se olha com fascinação para aquela constelação de cores, para os vestidos coloridos das duzentas coadjuvantes de jerry subindo e descendo aquelas escadas vermelhas... ao mesmo tempo há algo de perturbador na idéia dele como um über-nerd que teme as mulheres patologicamente, se refugia em uma casa cheia de mulheres, onde ele pode viver virginalmente e se sente reconfortado com aquela dupla de dominatrix que controlam a casa: uma volumosa ex-cantora de ópera e aquela espécie de enfermeira nazista que está em tantos filmes dele. wow.
e nos extras você pode vê-lo ensaiando, como seu real self, confiante, agressivo, cheio de verve, energia e poder. é uma sobreposição inquietante. aquele homem que representava uma criança histérica visto como adulto, como criador...
eu lamento que isso não esteja fazendo muito sentido. é o tipo de coisa que teria que ser escrita com mais tempo, algum método, notas revisadas... mas eu não trabalho na Bravo. são
impressões, confusas como jerry lewis. vou pensar mais sobre isso e volto, acho.
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