Mais um longo texto sobre o nada.
(Eu culpo os domingos por isso. Ou excesso de café. Ou os dois.
Acredite, você tem minha compreensão se não ler.
Tente na terça, deve estar melhor. Segunda eu vejo muita tv e fico melhor.)
Domingo pode ser como o começo de
Perto do Coração Selvagem, onde Joana tenta agarrar o ar entre ela e os móveis, olha para as paredes e se desespera e pergunta – Pai, do que eu brinco agora?
O dia pode se esticar pra sempre, se você deixar. Simplesmente olhar pra fora da janela, e ver uma parede branca como eu vejo e se espantar que o momento não passe.
(Se existe algum título mais bonito do que
Perto do Coração Selvagem não lembro agora.)
Voltando ao que eu dizia outro dia: me sinto dentro de uma enorme pausa. Nem música, por semanas.
A criação, quando acontece, traz a ilusão de algo acontecendo em sua vida. O tipo de sensação que outros extraem de relacionamentos, empregos, preocupações. Ninguém está pronto para enfrentar
o vazio total, a falta de significado, a inexistência de um caminho. Talvez o mestre zen esteja, mas ele morreu no japão faz tempo. Hoje as pessoas se ocupam com o zen como se ocupariam com marcenaria ou com a bebida.
Mas o do que fugimos, em última instância? Da ausência mesmo de significado? Do que o zen chama de void, o vazio infinito? Alguns capítulos de um livro sobre zen:
“Sitting quietly, doing nothing” “Empty and marvellous”. Podemos chegar lá? É possível, para um ocidental contemporâneo, criado no tempo da mtv?
Uma conclusão parcial é:
há níveis de tolerância para o vazio. Algumas pessoas entram em pânico se tiverem uma noite livre. Outras só começam a se afligir depois de semanas. Talvez, talvez, alguém na terra consiga viver sem planos. Ou ocupações. Viver, só.
Não se trata, efetivamente, de sentar-se em frente a um riacho por toda a vida, caso você esteja me lendo muito literalmente. Mas de não fazer coisas por medo do monstro debaixo da cama, o Vazio. De que nossas atividades não sejam como uma fogueira pra espantar animais selvagens.
Como consolo, se você acha que fracassei completamente, uma das velhas máximas do zen:
Aqueles que sabem, não falam.
Aqueles que falam, não sabem.
Então...