segunda-feira, junho 26, 2006

displacement. o passarinho que passou por aqui comentava em seu próprio blog-ninho do seu estar fora de lugar. tell me about it, oh passarinho. estrangeiro. tentava ontem explicar muito toscamente ao telefone, (oh instrumento do demônio) essa delicada noção para uma dama em particular. (ocorre que quando pego o telefone toda minha articulação se vai. parece aquela sensação eterna dos sonhos: tentar andar e não conseguir. minha fala se esfacela.)

o que tentava explicar? que, por mais que tenha me mudado (e boy, me mudei muito) sou um animal territorial. profundamente territorial.

hoje meu território é pequeníssimo, como um cigano que carregasse um baú com seus pertences. não são os objetos, por supuesto, mas a carga deles, a lembrança, uma idéia de pertencer. lembrei de Dali, que andava com um medalhão com sua própria foto no peito, "para que todos soubessem que ele era Dali". meus lápis e pincéis representam a pátria, sem dúvida. estão sempre desenhando uma suposta bandeira. dentro de uma caixa, estão os poucos cds que trouxe, com os hinos desse país em movimento.meus livros se quedaram no sul, mas os que fui comprando são um espelho em miniatura de todas as bibliotecas que já montei. a medida que os nomes começam a se repetir, o colecionista sorri. estão dentro do guarda-roupa, o que é um lugar estranho, mas dá uma cara de conhecimento secreto a eles. e acrescenta carinho. toda minha vida portátil. a moveable feast, como dizia tio hemingway. minha paris levada junto ao peito.

e ainda não me explico. todo esse canto não é sobre a pátria perdida, que nunca houve uma. não é sobre um lugar. não é sobre objetos. o que quero dizer é que é fácil esquecer quem você é. passarinho tem razão: as pessoas que cresceram e vivem na mesma cidade tem uma apreciação mais tranquila da sua identidade. claro que eles sabem quem são. não estão aí os amigos, vizinhos, credores e amantes para confirmar? não está ali a padaria, aqui meu quarto, ali o café?

aqui somos mudas de árvore tentando sobreviver ao transplante, sem saber se parece(re)mos com o que éramos, sem saber se somos os mesmos, sem saber. e as explicações sobre quem afinal somos se vêem complicadas e cheias de galhos como essa.

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