terça-feira, setembro 30, 2003

todos sofremos desse mal, em blogs - um dia sem novidades é um dia sem leitores. ou um leitor a menos por dia. é justo, justíssimo. é democracia digital. give me what I want or. mas nem sempre temos o que dar. tem dia que é de noite.
promessas

na televisãozinha que é a janela que esse blog é, parece que chove desde sempre e que nada acontece, mas não é assim. dias tem se passado e coisas tem acontecido. só não tenho contado. por isso estou na dívida. agora essas são coisas que não me vem, como diz o vítor. mas virão.

terça-feira, setembro 23, 2003

a cidade confirma sua lenda e chove por dias a fio. a mesma cortina pálida de água dia após dia. os papéis parecem que vão se desfazer, o quarto cheira a mofo, os dias se parecem.

quinta-feira, setembro 18, 2003

camus no brasil. estou lendo os diários de viagem dele. ele veio como uma celebridade, vagou por aqui febril e oprimido pela atenção. (em outro ocasião, ele disse - nós, escritores do seculo XX, nunca mais vamos estar sozinhos).

do brasil dos anos 50 que viu, disse, entre outras coisas, que a civilização aqui era como uma fina chapa de metal sobre uma fonte de energias primitivas e vitais.

disse também que esse edifício um dia se romperia e veríamos a população nativa tomar posse triunfante. disso já duvido um pouco. nesse meio tempo, parece que a casca de civilização se solidificou, matando um tanto o espírito brasileiro. o que parece a vocês?

terça-feira, setembro 16, 2003

tenho um cérebro que não foi feito para a ciência, mas que pode ser incrivelmente excitado por ela. ontem me pus a ler uma scientific american e dio, quem disse que eu conseguia parar. ou dormir. quatro da manhã e minha mente estava febril com a possibilidade do universo ser um holograma, com os gases que faziam a pitonisa de delfos profetizar, com a origem do homem ser africana ou não, com o pêndulo de foucault...

leitura contra-indicada para mentes excessivamente imaginativas.

segunda-feira, setembro 15, 2003

a segunda feira é por natureza, um dia de recomeços. e de se coletar os cacos do final de semana. resumos. então, com aquela voz da sony - nos capítulos anteriores de...

vimos nei lisboa ao vivo, viu jorge, sem querer causar nada parecido com inveja. o pequeno gnomo usava aquele gorrinho verde e camisa vermelha. quase o uniforme dos duendes. cantou muito e bem, como sempre. meu entusiasmo, somehow, falhou em aparecer, mas não se podia apontar uma falha ali. coisas da familiaridade excessiva, talvez. fiquei bem mais entusiasmado com a parrillada que veio depois. as alegrias da carne, parece, não morrem.

vimos (onde escrevo nós, leia-se eu e mari) o terceiro Hannibal, que vem a ser o primeiro refilmado e achei tristíssimo. curioso, uh. esperava me agarrar na cadeira, mas não sei se pela presença de ralph fiennes, o filme me pareceu muito mais triste que assustador. uno siente uma dó do assassino... ou eu estou ficando insuportavelmente soft, mas juro que fiquei com um certo travo na garganta.

após nossos intervalos comerciais, voltamos com essa retrospectiva. stay tuned.

segunda-feira, setembro 08, 2003

eu não mereço, mas jorge escreveu um texto lindo sobre mim. fiquei tocado, de verdade. ficaria embaraçado de fazer o relato de volta, mas um dia faço. porque ele sim merece.
ah, e como poderia esquecer de comentar? Vi punch drunk love esse final de semana, embriagado de amor na versão brasileira e é o filme mais bizarro, lindo, assustador, estupefaciente.... podia continuar com adjetivos sem parar. dudu pergunta o que viram em adam sandler e eu acho que ele se saiu lindamente nesse filme. você quer abraçar o fulano, confortá-lo como emily watson faz. ela, com aquela grande cara inglesa redonda tem um significado tão tocante - você entende sem que adam explique - quando ele a abraça, ele sabe que chegou em casa. ela tem aquele abraço que significa um mundo, que significa que aquele ser humano achou um lar naqueles braços. com toda a sabedoria das mulheres que entendem que homens são crianças rodando pelo mundo.

confesso que saí trôpego do cinema. de fato, tive que sentar nos degraus de uma loja vazia no domingo e fumar um cigarro meio perplexo, sem saber pra onde ir. mas pode ser uma coisa minha.
pequenos crimes

então livros de novo. ainda que eles não sejam toda a vida e alguns poderiam dizer que eles são o contrário da vida. mas eles são um pedacinho dela. ou uma chance de viver outras vidas. o final de semana me arrastou a lugares barulhentos e infernais, mas no domingo desliguei o telefone e reli as estórias de tom ripley, reunidas num volume. a expressão prazer culpado se encaixa tão bem aqui, porque tom é tão amoral que uno se siente cúmplice dele ouvindo suas estórias e não consegue deixar de imaginar pequenos crimes. parece tão fácil para ele. ele ultrapassa delicadamente os limites da lei. não mais do que o necessário, não sem um certo senso de estilo, entre um bom vinho e uma tarde agradável em sua maison na frança. às vezes simplesmente para quebrar o tédio. e a realidade parece alterada. você sai dali sorrindo e com idéias pérfidas na cabeça.

quinta-feira, setembro 04, 2003

camus e a américa

as alegrias do sebo ideal. adão é o dono. lá se chega, se pode fumar, o dono conhece tudo e é difícil não encontrar dois diletantes discutindo o sentido da existência. ele tinha recebido três mil volumes, que misteriosamente acham seu lugar nas mesmas prateleiras cheias. saí de lá com dois camus, um autobiográfico e o diário de viagens dele. na américa, ele diz que sente o coração tranquilo e seco, como quando frente a um espetáculo que não o emociona. um americano diz a ele - esse é um país onde os relacionamentos são fáceis, porque são rasos. é um país que não conhece o amor.

segunda-feira, setembro 01, 2003

o final de semana foi luminoso. passado todo em torno da mesa de desenho. não há satisfação maior do que ver páginas prontas ao final de um dia de trabalho. depois, relendo patricia highsmith, um personagem citava um pintor que dizia - que não há nada tão depressivo para o artist do que o self, para o qual ele se via retornado depois de um período de trabalho, ou em férias, que nunca deviam ser tiradas . o negrito é por minha conta. sei do que ele fala. sempre me senti profundamente desorientado em minhas tentativas de estar em férias. simplesmente não fazia nenhum sentido pra mim. como já disse, o mundo faz sentido quando se está tentando criar um novo.