terça-feira, dezembro 18, 2007

rumbo al sur. férias, muito aguardadas. rever os amigos, tomar mate, fazer um luxuoso quase nada em grande companhia. gone with the wind. ciao.

terça-feira, dezembro 11, 2007

quanto tempo leva até você aceitar quem você é? a vida inteira, parece. pelo menos no meu caso. a expressão "confortável na própria pele" me ocorre para algumas pessoas. poucas.

comentava com wilbur ali nos comments. a primeira história impressa em um amontoado de folhas que se chama livro. o choque, o horror, o horror. em casa, com mais calma, fui aceitando. minhas árvores são minhas árvores. minha sujeira, meus seres humanos, meu nanquim. não dá pra ser mais do que você. e a telefonista acabou de vir aqui e me elogiar. que bom.
trechos da correspondência completa:

from: odyr@qualquercoisa

to: angie@qualquercoisa


peguei o metrô para comprar sua revista.


estava 35 graus na rua, angie. desci na carioca, sempre confuso para que lado seguir. um saxofonista torturava o tema do verão de 42. desci e passei uma hora na berinjela (o que, em minúsculas, fica ótimo). comecei a ler (você primeiro, claro) de pé na estação. sorri sozinho. no metrô, uma loira se desmanchava. o braço dela parecia que tinha desistido. almoçei pastel de camarão e chope. tão carioca. onde anda minha estética do frio? também quero ser poeta, angie. deus me livre de actually escrever poemas. mas ficaria feliz de ficar andando assim pelo metrô, com missões tão vagas como essa. (ainda que prefira enormemente ficar parado em casa) mais do que um flaneur, é uma questão de ser um respirateur, como dizia duchamp. é o que estou tentando.
(...)
você não sabe os quadrinhos que quero fazer.

beijo.


O.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

duas notas:

- não me escapa que os dois posts abaixo são francamente contraditórios. so what.
- já tive orgulho de ler rápido.hoje tenho orgulho de ler devagar. a constante, como você vê, é o orgulho. nada do que se orgulhar.
nota rápida: a cara feia de beckett nos mira do topo do site do ubu. para alguns de nós, essas caras feias (burroughs, beckett, joyce) são como as de nossos avós. tenho uma foto de buñuel em minha mesa de trabalho, como de um avô espanhol distante.

a tese que eu desenvolveria aqui se fazer teses fosse meu caso era de que nosso amor pela arte hoje em dia é isso mesmo: amor. o que nos prende a toda essa tralha dos anos 20 ou 30 é um carinho por essas figuras que orientaram nossa adolescência. já falei e falo em cada festa em que estou bêbado e alguém me dá atenção que acho que a arte acabou. às vezes mudo de idéia, mas na maior parte dos dias penso assim. o que não acaba é nosso carinho por esses mentores distantes, cujas frases repetíamos quando ainda não sabíamos o que dizer.
retorno à estação adolescência

nossas carreiras, nossas vidas, o mundo, nada anda em linha reta, não é mesmo? nasi, meu personal personal agent na descoberta de cool na web e no mundo apontou mais um tesouro: ubu, um repositório de coisas de vanguarda que parece uma caverna de tesouros inestimável. e oportuno, porque são coisas para as quais me vejo retornando. chamei de retorno à adolescência, mas seria o contrário, o princípio da idade da razão? não sei, mas vejo acontecer.

aos 18 ou 19 eu era uma torre de petróleo de pedantismo. eu não ligava muito nem para a música, o pop, até os quadrinhos estavam esquecidos. meu negócio era sartre (terrivelmente mal lido), kandinsky, klee e minha igreja particular de vanguarda. se era para ouvir música, eu ouvia gismonti, keith jarret e sonhava mesmo era em ouvir stockhausen, de quem só tinha ouvido falar. naquele momento, essas adesões eram simplesmente um sintoma da falta de sexo. como diz artaud, os adolescentes perdem suas inquietações metafísicas com a primeira amante. durou um pouco mais que isso, mas enfim em algum momento re-descobri as alegrias dessa droga que se chama pop. um amigo, (law, donde andas?) me levou de volta aos quadrinhos, à ficção científica, ao terminator, ao mundo das alegrias imediatas e do volume.

vivi nessa terra meio vegas, meio tokyo por muito tempo com um esquecimento quase completo de minha existência pré-matrix. troquei borges por stephen king sem olhar para trás.

continuo amando os dois, sem nenhuma culpa, sem nenhum revisionismo, mas me vejo voltando a esses prazeres mais lentos, a essa slow food do pensamento. a ler coisas que não são chiclete a ver filmes que não são só pixels explodindo. passei o final de semana lendo em câmera lenta um capítulo da biografia de duchamp. menos de 10 páginas. mas uma sinapse a cada 20 linhas. vi transformers, também. mas meu cérebro quase explodiu. vi 10 minutos de viver a vida, de godard. e senti o prazer de ter uma câmera que olha para as coisas, que leva o tempo em consideração. duchamp: só a arte nos leva a regiões que não são dominadas pelo espaço e tempo.

como sempre, esses esboços selvagens, digitados na hora do almoço, me irritam um pouco. mas são um boletim mal editado do que se passa na minha mente. como se interessasse a alguém.