terça-feira, novembro 30, 2004

talvez uma feliz influência tenha sido a releitura de henry & june, de anais nin. henry miller sempre passa como o garanhão ( e anais não nega isso) mas veja bem: anais estava tendo um caso com Henry, um affair com June, um drama erótico com o primo, umas escapadas com o psiquiatra e ainda tinha energia e carinho para com o santo, santo marido.

faz você suspirar.

mas mais do que isso: ela era ótima com todos. ninguém se queixava.
epilogue: talvez um dia eu ache THE ONE, mas nesse meio tempo, the next one´ll do just fine, thanks.

ou como cole porter diria, de forma tão mais elegante:

It´s the wrong time, and the wrong place / Though your face is charming, it´s the wrong face/ It´s not her face, but such a charming face That it´s all right with me.

You can´t know how happy I am that we met / I´m strangely attracted to you/ There´s someone I´m trying so hard to forget / Don´t you want to forget someone, too?
às vezes acho que já escrevi alguma coisa por aqui, mas what the hell. se for, vai de novo, porque anda pelo meu cérebro de novo.

sonho com um mundo intercambiável. com presenças, quero dizer. porque fulana deveria sofrer com a ausência de beltrano se eu estou completamente disponível e sou um modelo similar? um genérico perfeitamente aceitável? não se trata de levar qualquer um(a) pra sua cama, mas há um número bem vasto de opções. os seres humanos não são tão raros assim.

há o amor, claro, aquele estado raro em que você está plenamente convencido de que é aquela e não outra. mas esse sim é raríssimo. nesse meio tempo, acho que devíamos ser todos tão felizes quanto possível.

venho tentando praticar isso, mas nem todos estamos convencidos ainda da beleza dessa idéia.

tive uma noite incrível ontem, mas com alguém que não vai se decidir por agora, não vai dar nenhum salto, não se decidiu. (e é uma loooooonga história. Jorge e fê vão lembrar de um show do vitor que vimos com ela em porto alegre, eons atrás). foi realmente uma noite rara e saí de lá leve, feliz. mas já olhando pro lado. levei minha felicidade pra beber e vi tantas bellas. a vida é tão vasta. eu não posso ter todas. mas um pouquinho de cada uma me faz feliz.

segunda-feira, novembro 29, 2004

gracias, gracias, gracias a fê e jorge por postarem as fotos de cortazar. me pus bobo. cortazar me pega de uma maneira diferente de qualquer outro. posso admirar outros escritores, pintores, músicos, mas julio... I don´t know. cada foto do velho louco me emociona. e aquela primeira é ele criança? dio, os olhos daquele serzinho... ah sim, e ver fafner em toda sua glória colorida.... eu nem sabia que ela era vermelha. :)
uma galeria nova no sadcomics. resultado de uma sessão muito feliz no final de semana. um retorno ao pincel. andava achando meu trabalho meio anêmico. então fiz aquele mergulho: pincel, tinta, nenhum esboço, nenhum tema. só a volúpia da linha. a mim me fez feliz. o resultado está aqui, em black&white.

quinta-feira, novembro 25, 2004

aí eu me faço de lurker. entro no orkut, começo a olhar os amigos dos amigos, os fotologs dos amigos dos amigos dos amigos... daqui a pouco estou dentro da vida de alguém que não tenho a menor idéia de quem seja, de como cheguei lá...

não chega a ter nada de obsceno nisso, só sintomático de uma época. tenho olhado muito o fotolog dessa pessoa aqui. dio, que rosto. não é uma questão de rosto-de-barbie, mas uma cara linda mesmo, cheia, viva.
como eu já falei uma vez, é triste quando você faz a ronda dos blogs em busca de calor humano. por exemplo, preso no trabalho, em um dia sem muito pra fazer. e parece que não há blogs suficiente.

terça-feira, novembro 23, 2004

são momentos, e devemos ser gratos por eles. eu tento colecioná-los sem fazer muito alarde. outro precioso veio quando sentamos na mesa, comendo na penumbra, em uma camaradagem tranquila que não tem preço. rindo um pouco por alguma bobagem. ela tem uma voz grave, mãos muito exatas e uma risada linda.
primeiro ela foge, foge como uma ninfa de um sátiro.
ontem, quando estou fumando na janela dizendo pra mim mesmo que desisto e xingando seu nome em várias línguas, o carro pára em frente a minha casa.

ela se joga no banco como se dissesse "não sei porque estou aqui" e eu olho da sacada. os dois brincamos, ela em não sair do carro e eu da sacada. mas rindo. certas coisas não precisam de palavras.

segunda-feira, novembro 22, 2004

bom, sketchcrawl foi bastante bem. embora eu não tenha ido desenhar em tóquio, como o autor da idéia, meus modestos arredores renderam. está tudo aqui. aviso: muitos desenhos. deixe carregar e dê uma volta. leva um tempo.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Morreu Borjalo. Eu gostava do trabalho dele, daquela pureza de linha, prima do Saul Steinberg, do Sempé, do cartum mais puro. Duro é essa coisa de ele ter virado um homem de tv, braço direito do Boni. A biografia dá conta de que o desenho se vingou e ele teve um período brutal de depressão e alcoolismo. Morreu atulhado de dinheiro, não duvido. São escolhas.
deixa eu espelhar aqui um post de wilbur: enrico casarossa está promovendo dia 21 de novembro um sketchcrawl. algo como desenhe-até-cair. convidando desenhistas de todo o mundo para desenhar o domingo inteiro e compartilhar os resultados com ele. idéia bem bacana. se você for no forum e olhar a lista de inscritos, vai ver que no meio de toronto, new york, tóquio, tem um pelotas, brasil. :)

que tal, jorge? barcelona deve render bem um dia de desenho.

quarta-feira, novembro 17, 2004

então pus no ar o improv de ontem.

fifteen forever.

terça-feira, novembro 16, 2004

além de ouvir vitor e entrar em contato com outras formas de vida, também trabalhei bastante. só porque não estou colocando online não quer dizer que a produção tenha diminuído, folks. só estou sendo meio pão-duro. mas as histórias vem saindo, uma atrás da outra, em fila, comportadas. às vezes uma atropela outra, mas é de se esperar. e há que acomodar a urgência. as histórias tem um tempo, uma agenda delas. ontem foi curioso, fiz uma quase em tempo real. um telefonema, um encontro marcado, fiz duas pagininhas que comentavam o que geralmente me sucede nessas situações. e estava certo.

(mas a realidade sempre tem um twist, pra melhor ou pior. eu previa um certo embaraço, um encontro permeado de um desconforto juvenil. estava tudo lá, mas um cenário nothing hill também surgiu e nos vimos sentados em um banco da praça iluminado obliquamente, sobre um tapete de flores do ipê roxo. de vez em quando mais duas ou três caíam. foi bem.)
assim que o disco de vitor pede outra leitura. ou uma não-leitura. é um disco horizontal, me parece. como vitor mesmo tinha dito, o violão cria paisagens. um tanto áridas, então há que se espraiar por ali para se sentir em casa. para quem costumava ouvir as letras com mais atenção, não é esse o caso. ouve-se sem ouvir, deixa-se as letras entrarem. as letras são vagas, são menos discursivas, são mais textura da música. domingo consegui enfim ouvir todo. sentado, mirando pela janela, muy quieto. foi bom.

(em resposta a jorge, a quem eu tinha feito má propaganda do disco. fui apressado, talvez, jorge. é fato de que há uma névoa, que o disco é um tanto soturno, mas existem cenários ali que valem. a essas alturas você já sabe.)

quinta-feira, novembro 11, 2004

wilbur deve ser já leitor do The Beat. pra quem gosta de quadrinhos e principalmente pra quem faz, é bom pra cacete. eu leio faz um tempo. ontem me agradou muito essa história do Uncanny Valley, que fui seguindo link a link e cheguei a coisas bem interessantes.

é uma teoria sobre antropomorfismo. aparentemente surgiu no campo da robótica. humanos reagem com pouca ou nenhuma simpatia a máquinas com cara de máquinas. reagem com mais simpatia a robôs que tem características humanas. é uma curva crescente de simpatia, quanto mais "humano" o robô for. mas se o robô for demasiado humano, quase humano, há uma queda violentíssima na simpatia. é o tal uncanny valley. no entanto, se ele for completamente humano, a simpatia volta.

tem muito a ver com representação, estilização, com a maneira como desenhamos nossos personagens. me interessa muito, porque tenho me afastado do realismo, cada vez mais. principalmente desse "quase humano".

nesses links, cheguei a um artigo beeem interessante, do stephen jay gould, comentando a "evolução" biológica de mickey. aqui.

quarta-feira, novembro 10, 2004

sonhei com um fantasma que varria minha sala e cantava ao mesmo tempo enquanto eu dormia. fazia as duas coisas com tanto entusiasmo que acordava os vizinhos. fui até ele (ela, na verdade) para fazê-la parar e ela foi recuando até se fechar no quarto das roupas. sem que eu conseguisse ver seu rosto.

acordei absolutamente gelado de pânico.
então phrann tem uma campanha. vá lá responder pra ela. esse é um site onde ela e amigos ficam barbarizando (geralmente uns aos outros). aproveite e leia detroit-canoas-amor, o hino punk patti smith. demorgon

e, bueno, você sabe, phrann, esse ano foi como nenhum outro. não tenho no caderninho um que se compare. nunca amei e me fodi tanto, alternando um e outro. e foi booooooom. :)

cada vez mais aquele versinho cazuziano que beira o lugar comum faz mais sentido: solidão é pretensão de quem fica fazendo fita.

sexta-feira, novembro 05, 2004

a blurred portrait

so marie doesn´t love me. big deal.
she´s a dyke, by the way. but I didn´t give that much tought.
I said, what the hell. I sort of like her, she could like me as well. I´m not that bad.
but it didn´t work that way. buuhh.


last night I sat with her and her gay pal, both blabbing about the hideous academic world, that apparently sucks, but they can´t get enough of it. I laughed at in-jokes, made movements with my head that indicated attention and understanding and it was no good. she´s the nervous type, you know. always picking at something, looking away, making questions and not waiting for answers... you get the picture.


she´s tall. I like them tall.
you may insert here at your pleasure some rancid comment on my need to submit to women. I don´t care. I just like the way they bend a little bit when talking to you. something akward about it. it touchs me.


she had nice feet and a way of keeping her hair on a precarious balance over her head. she has nervous tics and a peculiar face. and she doesn´t love me. big deal.

quinta-feira, novembro 04, 2004

a garçonete vive. ontem mesmo escrevi o roteiro e fui meio siderado pra casa, vendo as cenas. era só uma gag, mas na hora cresceu. aliás, essa é a beleza da coisa. lendo a biografia de fellini, me encantou muito ver como ele trabalhava. uma mistura de preparação com improvisação. fica mais claro pra mim com o tempo de que o roteiro é o que o nome diz. uma rota. mas às vezes o melhor da viagem tá naquela estradinha ali. onde ela vai dar?

nos primeiros desenhos aproximatórios, que eram só pra definir a garçonete, ela já saiu falando feito uma louca. eu só tentando acompanhar. leitores talvez achem incrivelmente mistificatório esse papo de criador, que o personagem fala, se escreve, se rebela. well, das duas uma: ou estamos todos full of shit ou gostamos muito de nos enganar. porque é o que acontece. really. e é a graça toda, folks. se eu tenho tudo resolvido, tudo pré-determinado, eu realmente vejo pouca graça de continuar. então, aos poucos, achando uma outra forma de trabalhar, que é parte preparada, parte sabe-se lá o que acontece.

a garçonete ficou menos caricata, a piada ganhou carne. na minha cabeça, eu vi um outro perfil. alguém que tinha uma mente apropriada para esse tipo de leitura e estudo, mas as coisas não aconteceram assim. ela descobriu essas coisas tardiamente. e sofre, digamos, de uma certa dissociação. uma inadequação, um não-saber o que é razoável. ela lê e ouve essas coisas com grande intensidade e lhe parecem normais.

enfim. esperem, folks.
DAMN. da série COMO É QUE EU NÃO PENSEI NISSO?
Action Philosophers!
outra coisa que me consolou imensamente lendo a biografia de fellini é o número de projetos não-realizados. nós, que vemos a obra pronta, esquecemos todos os filhos bastardos pelo caminho, os projetos frustrados, ou a maneira como um projeto que não sai se transforma em outro...

alguém poderia objetar que, claro, cinema depende imensamente de dinheiro e esse é o motivo principal pelo qual projetos não saem. mas fellini tem histórias ótimas. um dos projetos mais ambiciosos dele não saiu nunca, ficou rondando por 20 anos. o poderoso dino di laurentis bancou tudo, construiu megacenários que envelheciam na cinecittá. enquanto isso, fellini tinha"sonhos premonitórios", palpites, intuições.... mil argumentos imateriais para não fazer o filme.

wilbur, sempre pronto a me chamar de vagabundo, vai dizer que estou só buscando desculpas. para o nosso falecido projeto dos cômicos, por exemplo. mas eu vou realmente cada vez mais pelo meu palpite. não sou fellini, uh, mas enfim. isso é no final das contas um brinquedo maravilhoso. devemos fazer o que nos dá na telha. exatamente isso. :)
ainda
mais considerando que não existem cenários mofando, atores sem emprego, produtores enlouquecidos... voltamos a crumb: it´s only lines on paper, folks.

quarta-feira, novembro 03, 2004

deleuse no balcão

daonde vem as idéias? de todos os lugares. estava comendo uma empada incrivelmente gordurosa quando ouço a garçonete da lancheria dizer: deleuse no balcão.

sei lá o que ela disse de fato, mas imaginei na hora uma história. garçonete de lancheria lê filosofia todo o tempo e não tem idéia de contexto. então, quando um cliente olha o cardápio e fala, mais pra si mesmo, "não sei o que quero", ela pode dizer algo assim:

- segundo deleuse, o querer está intrinsecamente ligado com a impossibilidade da distância entre o eu e o objeto do desejo. em termos ontológicos, claro.

silêncio perplexo do cliente.

e assim por diante.

tenho três opções: a cumplicidade de alguém que de fato leu isso (alô, A.), a cultura copiar-colar da internet ou simplesmente inventar tudo. o que parece bem mais divertido.
o primeiro encontro com a crítica.

foi cedo. eu devia ter algo como 10 anos e apresentava meu primeiro esforço literário, aham, para a platéia seleta de meu pai e mãe. era, novo aham, uma história de lobisomem. onde eu usava desavergonhadamente o clichê do pêlo de animal encontrado no local do crime que, pela manhã se transformava em um fio de cabelo. uau. mas não foi isso que abalou minha platéia. foi a manchete do jornal fictício de minha história: HOMEM CORTADO EM TIRAS. para mim, o máximo da selvageria possível. mas a platéia familiar desandou a rir. grande embaraço do escritor. história prontamente arquivada. morria ali minha vocação para stephen king.

segunda-feira, novembro 01, 2004

resumão da ópera:

ainda sem telefone and loving every minute of it, como diz a musiquinha. impressionante o alívio. vou colocar uma placa como aquelas de fábrica: tantos dias sem telefone.

obsecado com o livro. montando ele na minha cabeça e no computador. o tipo de coisa do qual você precisa se ver livre. ir adiante. é como queimar aquelas páginas: no momento que elas saem de casa, você se sente renovado para ir em frente.

novo CD do finley quaye : maaaravilhoso. difícil de expllicar. ele já teve pitadas de reaggae (embora fosse um reggae chuvoso, digamos, oposto ao solar) agora tem ondas de folk, pitadas de eletrônica, mas grandes arranjos, grandes melodias e cada faixa te surpreende e te alegra de uma forma muito tranquila.

ao contrário, o novo de vitor ramil, lamento informar aos amigos distantes, é tetricamente triste. isso vindo de mim, o homem que ama a melancolia. mas me parece que vitor passou do ponto. as primeiras audições foram doloridas.

kill bill vol. 2. uhhh. não posso dizer muito. tarantino, tarantino. mais falação, claro, como dizem as críticas. mas ainda nem um minuto chato no filme todo. e eu passaria duas horas só olhando para uma thurman, anyway.

sem tv, também. não é nenhum obscurantismo, mas pura coincidência. e tenho lido o dobro e gostado muito. uma biografia muito boa de fellinni e um livro desconhecido chamado mary swann, que parte de uma poeta obscura e costura várias vidas de pessoas ao redor, o mundinho acadêmico, as vaidades, as paixões... surpreendentemente bom.

PT perdeu em todas as cidades que disputou. lamento, de fato. nunca fui militante, mas não me parece que exista uma opção melhor.